Polônia: Entre olhares e sedução

12 de novembro de 2018
Irineu Ramos

A Polônia é um país lindo, rico em história, belezas naturais e com um povo simpático e cortês. A vida gay em cidades como Varsóvia e Cracóvia é bastante dissimulada e nem por isso menos sedutora. Olhares são trocados o tempo todo nas ruas, nos shoppings e no transporte público. Algo bem excitante. Os clubes noturnos funcionam basicamente nos finais de semana e encontrá-los nem sempre é uma tarefa fácil. Mas, para os que amam a arte e a cultura o país é o lugar ideal.

Em bares descolados, points onde se reúnem estudantes e locais de muita circulação de pessoas é sempre possível encontrar cartazes chamando para discussões sobre as questões de gênero e sexualidade.

Julgar a Polônia como um país refratário ao amor entre iguais é de uma simplicidade quase ingênua. Para não dizer, maldosa. Digamos que o país respeita a homossexualidade, mas, não a promova. A constatação está no parlamento polonês que abriga dois personagens marcantes e determinantes na luta pelos direitos dos gays. Um deles é Robert Biedron, 37 anos, doutor em ciências políticas, membro do Conselho Polonês Contra Homofobia e relator-geral dos direitos LGBT da Comissão da Igualdade e Não-Discriminação da Comunidade Europeia. O outro é a transexual Anna Grodzka, 59 anos, eleita para o parlamento em 2011 e o primeiro membro abertamente transgênero do mundo. Antes da cirurgia de adequação sexual feita em Bangkok, Tailândia, ainda com o nome de batismo Krzysztof Begowski, ela foi casada com uma mulher com quem tem um filho. Como se pode notar, a Polônia é bem mais arrojada do que parece.

Varsóvia foi totalmente destruída durante a II Guerra. Com muita dedicação foi reconstruída respeitando construções históricas. Uma cidade limpa e atraente.
Todos os jardins são muito bem cuidados. Apesar do frio intenso na maior parte do ano, as flores resistentes ao vento gelado dão um toque especial na paisagem.

Nas ruas de Varsóvia e Cracóvia é difícil identificar gays e lésbicas baseando-se apenas no comportamento. Mas a troca sutil de olhares denuncia tudo. O Leste Europeu deve ser entendido de uma forma específica na questão da sexualidade. Como os demais países, a Polônia não viveu a revolução sexual dos anos 1960 e 1970 do Ocidente.

Cracóvia é uma das poucas cidades que não foram destruídas durante a II Guerra. No bairro judeu estão localizados os melhores restaurantes e baladas.

O que levou décadas para avançar no mundo ocidental os países da então Cortina de Ferro começaram a assimilar há pouco tempo. Hoje caminham a passos largos para atingir as mesmas conquistas. Os jovens são bastante abertos e respeitam as questões de gênero e sexo. As universidades estimulam a discussão. A resistência está nos valores da religiosidade e, óbvio, nas camadas da população com mais idade. O catolicismo local é muito forte e julga a homossexualidade moralmente incorreta.

O comércio de roupas e objetos usados é bastante comum nos países da ex-URSS. A qualidade das roupas é razoável e os preços prá lá de convidativos.

 As duas maiores cidades abrigam bares para gays e lésbicas e são nesses lugares onde é possível saber dos avanços da comunidade tanto na esfera política (dos direitos) quanto na acadêmica (congressos e simpósios universitários sobre gênero e sexo). Então fica a dica: o país é lindo e deve ser aproveitado na sua totalidade. Mas, sem a exposição pública de afeto entre casais LGBT.

pesar do frio em torno de zero grau, os restaurantes exploram mesas na parte externa. Aquecedores bem distribuídos dão o aconchego tão necessário na hora das refeições.

Cracóvia é mais liberal. Existem bares e cafés descontraídos, considerados friendly, especialmente no bairro judeu de Kazimierz, onde a juventude se reúne e a liberdade é maior. A cidade tem hoje cerca de 900 mil habitantes. O idioma polonês é bastante sonoro, mas, de difícil compreensão. O inglês é falado apenas em hotéis e alguns restaurantes. Portanto, convém conhecer os principais locais turísticos na companhia de guias.

Casas noturnas em Cracóvia e Varsóvia. Funcionam basicamente nos finais de semana e, em algumas delas, para ter acesso é necessário ser apresentado por algum freqüentador. A vida gay ainda é muito velada, misteriosa e fascinante.

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