Ainda penso sobre o Japão… e confesso que, lamentavelmente, sinto um grande pesar.
Um país que é um grande exemplo para muitas outras nações, de educação, segurança, limpeza, organização, tecnologia e tantos outros predicados maravilhosos, é também o líder no ranking de suicídio há quase 10 anos. 10 anos!!!
Estando lá, eu me perguntei várias vezes “Por que???”. O que levava pessoas que desfrutam de tamanha qualidade de vida, a quererem tirar sua própria vida? Não conseguia entender.
E então, começamos a explorar o Japão…
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o silêncio. No metrô, trem ou qualquer outro transporte havia sempre muito silêncio. Nas ruas, poucas pessoas conversavam. Mas quando entrávamos ou saíamos de alguma loja, supermercado ou qualquer outro estabelecimento comercial sempre nos ofereciam um “Seja bem-vindo!” ou um “Muito obrigado!”, bem alto e efusivo. Aquilo me parecia estranho e exagerado.
Desbravando um pouco mais, chegamos aos famosos “Game Centers”. Do lado de fora, o costumeiro silêncio japonês, já do lado de dentro, um barulho quase que enlouquecedor. Nas máquinas, milhares de coisas aconteciam, sempre com muitas luzes, sons e imagens, mas os jogadores permaneciam sentados, quase que estáticos, não fosse pelo rápido movimento de seus dedos para colocar mais moedas na máquina e assim garantir a continuidade do jogo.
Não havia risadas, conversas ou empolgação ao ganhar, nem tão pouco frustração aparente ao perder. Era uma espécie de movimento robótico e repetitivo que transparecia, no meu julgamento, uma grande incoerência entre o sentir e o agir, como se estivessem buscando em vão, preencher um vazio mais profundo.
E então fui sendo tocada por uma tristeza que pairava no ar. Uma tristeza não declarada, mas quase que palpável.
Nesse reino de eficiência há muito trabalho, cobrança e obstinação pela perfeição. Quando observamos as cerimônias tradicionais, como a do chá, por exemplo, vemos claramente o cuidado, a dedicação, a concentração e o empenho que colocam no que fazem, para que tudo seja o mais perfeito possível. Isso seria muito positivo se não fosse o sofrimento que está por trás de tudo isso para atender padrões tão elevados de perfeição.
Some-se a isso o fato de muitos japoneses, atualmente, estarem desconectados da espiritualidade, no sentido mais profundo da palavra (isso dito pelos próprios japoneses), e não verem o propósito da vida diária, o grande ‘Para quê?’ de tudo isso.
Essa experiência que vivemos no Japão segue comigo, quase dois anos depois, e me lembra que quando nos falta nossa maior riqueza, que está na conexão com o outro (que também sou eu!) e na aceitação das minhas imperfeições e fragilidades, o resultado só pode ser esse.
Que possamos sempre nos lembrar que a essência da vida está no ser COM o outro. E se não tivermos isso, nada mais faz sentido.