Vale do Qadisha e seus segredos

2 de junho de 2020
Suzane Hammer

​Conhecido como o vale sagrado, o​ ​Vale do Kadisha, ou ​Ouadi Qadisha, ​ ​ao norte do Líbano, tem uma das mais deslumbrantes paisagens desse belo país. Diferente de seus áridos países vizinhos, as terras libanesas oferecem belezas naturais magníficas como, cânions, vinhedos e neve no inverno. Sim, neve! O ponto mais alto com 3088 m de altitude no Líbano, é presenteado com neve no inverno, trazendo dezenas de turistas em suas estações de esqui.

E é no vale do Qadisha que podemos encontrar também, preciosos lugares para explorar como a pequena cidade de​ ​Becharre​ , o​ ​Museu do Gibran Khalil​ em homenagem ao seu ilustre filho, o bosque dos cedros, chamados de Cedros de Deus e o fabuloso mosteiro de Santo Antonio de Qozhaya.

Esse belíssimo vale foi incluído, em 1998, na lista da UNESCO​ dos Patrimônios Históricos da Humanidade (World Heritage Sites). Localizado em um desfiladeiro profundo, ele se estende por 50 quilômetros de al-Koura a Bcharre, com uma paisagem espetacular. Além de uma beleza natural impressionante, este vale abriga os primeiros mosteiros cristãos e igrejas (cavernas) do Líbano.

Wadi Qadisha significa o “Vale Sagrado”. A palavra Qadisha que significa “santo”, e desde o início do cristianismo, o vale de Qadisha tem abrigado algumas das comunidades monásticas mais importantes do mundo . Os mosteiros da região estão entre os exemplos sobreviventes mais significativos da fé cristã.

Durante as perseguições ao longo dos séculos, muitos cristãos se refugiaram nas mais de 800 cavernas do vale e ali fundaram a Igreja Maronita, também chamada de Igreja Católica do Oriente. Os principais mosteiros são o de Qannubin​, de Santo Antônio de Qozhaya, de Nossa Senhora de Hawqa e o Mosteiro de Mar Sarkis.

O​ ​Monastério de Santo Antonio de Qozhaya​ localizado no Vale de Qozhaya (significa “o tesouro da via“) pertence à​ ​Ordem Maronita de São Charbel,​ é considerado um dos mais antigos mosteiros do Vale de Qadisha. Também foi um importante local, pois a primeira prensa de impressa do Oriente médio, foi instalado neste mosteiro.

Cedro, símbolo do Líbano. Essa bela e imponente obra da natureza , tem seu desenho estampado na bandeira nacional e também no brasão da ​Igreja Maronita​. A floresta dos​ ​Cedros de Deus​, também conhecida como Os cedros do Senhor ou Horsh Arz el-Rab, são um conjunto de cedros-do-líbano de árvores gigantescas remanescentes de diversas civilizações que utilizaram a madeira de cedro para múltiplas utilidades.

Sua madeira foi amplamente explorada pelos persas, assírios, babilônios, fenícios e egípcios. Cristo foi pregado numa cruz feita com cedros. Os antigos fenícios a utilizaram para construir barcos e utensílios militares, o Templo de Jerusalém também teve sua estrutura edificada com essa nobre madeira a mando do Rei Salomão. Os antigos egípcios usavam sua resina no processo de mumificação e sua história e a comercialização foi registrada em papiros.

O próprio Líbano já teve toda a sua extensão coberta de florestas de cedros. Mas, por sua desordenada exploração que já teve início no ano de 3000 a.C, hoje, a quantidade de árvores está bastante reduzida. Mas ainda existem algumas árvores milenares que resistem a ação do tempo e tem sua espécie protegida.

No​ ​Monte Makmel​, no Vale do Kadisha, a uma altitude de mais de 2.000 metros, 4 destas árvores tem mais de 35 metros de altura e seus troncos mais de quatorze metros de circunferência. Duas delas têm cerca de 3 mil anos de idade, e outras 10 possuem mais de mil anos. Em 1998, os cedros de Deus foram incluídos na lista do Patrimônio Mundial, da UNESCO. Hoje, ela é rigorosamente protegida, tratada, adubada e um grande plano de reflorestamento já está sendo feito à algumas décadas. Mas como o cedro tem um crescimento muito lento, levará muitos anos para que as visitas a essas novas florestas possam ser admiradas.

Na Bíblia​, há 85 citações sobre o cedro. Milhares de livros, historias e poemas contam sobre sua beleza e majestosa estrutura e utilidade. Os cedros são ainda mais belos quando no inverno, a neve decora de branco seus imensos galhos verdes aguardando a chegada da primavera. Uma figura célebre da cidade de Becharre (Bsharri), nas montanhas do Líbano, foi o famoso filósofo romancista, poeta, místico e artista,​ ​Khalil Gibran​ (1883-1931).

Sua mais famosa obra foi o livro “​ ​O Profeta​ “ de 26 ensaios poéticos e traduzido para 20 idiomas. Seus trabalhos traziam mensagens de amor, paz, otimismo e alegria, além de obras de artes lindíssimas. Gibran viveu sua maior parte dos anos nos Estados Unidos, mais exatamente em Boston e Nova York, mas sempre deixou declarado em seu testamento, o desejo de ser enterrado em sua terra natal. E assim, seu desejo foi respeitado e após sua morte, em 10 de abril de 1931, seu corpo foi repatriado e enterrado no local onde hoje, um​ ​museu​ em sua homenagem pode ser visitado com uma vista espetacular do Vale do Qadisha.

“Passados outros mil anos, subi a montanha sagrada e me dirigi ao Criador de novo, dizendo :

– Meu Deus , meu alvo e minha plenitude , sou vosso ontem e vós sois meu amanhã . Sou vossa raiz na Terra e voz sois minha flor no Céu, e juntos, crescendo diante da face do sol. Então Deus se inclinou para mim e sussurrou em meus ouvidos palavras doces e , como o mar que abraça um riacho que nesse deságua , Ele me abraçou. E, quando desci para os vales e as planícies , Deus também estava lá.”


( Khalil Gibran )

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