Quito, a segunda capital mais alta do mundo

28 de abril de 2020
Irineu Ramos

O norte da Cordilheira dos Andes abriga um país com peculiaridades únicas. É uma terra de vulcões – alguns ativos – cortada pela linha do equador, um traçado imaginário que divide o globo terrestre em duas partes: norte e sul. Um ponto onde forças magnéticas se anulam fazendo com que, por exemplo, a água de uma pia desça pelo ralo sem fazer redemoinho e um ovo fique em pé. Essas são apenas algumas curiosidades do Equador e sua capital, Quito.

Um dos dois únicos países da América do Sul a não fazer fronteira com o Brasil, as belezas equatorianas ainda estão sendo descobertas pelo turismo. De beleza única, abriga o maior centro histórico preservado do mundo. Tanto que em 1978 a Unesco, órgão da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, o declarou como o primeiro patrimônio histórico da humanidade. São 3,2 quilômetros quadrados de construções muito bem conservadas. Em suas ruas estreitas, o estilo colonial e as praças dão charme todo especial à região que reúne museus, centros culturais, igrejas, conventos, capelas e mosteiros.

Foto: szeke on Visualhunt

Quito é a segunda capital mais alta do mundo (a primeira é La Paz, Bolívia). Está situada a 2.850 metros do nível do mar. Ao chegar o visitante percebe o resultado do ar rarefeito. Com isso sente um pouco mais de cansaço ao caminhar e uma pressão na cabeça. Não se assuste. É reflexo da altitude. Para contornar masque balas de coca industrializadas vendidas por camelôs e pequenas lojas por US$ 1,5 (quatro unidades). É um santo remédio. A bala é derivada do arbusto erythroxylon coca. Na segunda unidade já somem os efeitos do ar e não fique preocupado que este produto não tem nada a ver com o refinado entorpecente cocaína.

O centro histórico da capital é um excelente ponto para o visitante iniciar seu passeio pela cidade, desvendar mistérios e se encantar com a paisagem. A região surpreende pela grandeza de sua arquitetura e trabalho artístico dos edifícios seculares.

Ouro

A Igreja da Companhia de Jesus é considerada o exemplo mais representativo da Quito Colonial. Na verdade, o mais belo exemplar barroco de todo o continente. Construída entre 1605 e 1765 foram necessários mais de 150 anos para terminar essa verdadeira joia arquitetônica, que aconteceu um pouco antes dos jesuítas serem expulsos da cidade e de toda a América Espanhola.

Fotografias não são permitidas no seu interior. Internamente a construção é de um barroco exagerado, com paredes decoradas no estilo mordejo-mourisco-persa (formas geométricas) e teto em mordejo-mourisco-árabe (formas circulares), toda laminada em ouro. O barroco entendia que todo espaço vazio era impuro, por isso todas as paredes são ocupadas com arte. É impressionante a quantidade de folhas de ouro utilizada para cobrir peças tralhadas em detalhe dentro do templo. Santo Inácio de Loyola, o fundador da Ordem Jesuíta, tem um altar especial à esquerda da nave principal. Outro ponto característico do estilo é a simetria. Ou seja, o que está de um lado da igreja é reproduzido no outro mesmo que uma seja real e a outra fake.


Foto: VisualHunt.com

Nesta igreja está guardada a imagem de Santa Mariana de Jesus, a santa de Quito, aprendiz da Ordem jesuíta uma vez que esta não admitia mulheres. Ela foi canonizada em 1950 e, segundo os relatos, teria curado as moléstias da cidade de Quito três meses após sua morte. O edifício também guarda uma réplica do quadro de Nossa Senhora La Dolorosa, cujo milagre ocorreu em 1906, quando 32 alunos do colégio viram durante 15 minutos a imagem da santa piscando, como se estivesse ali, viva.

Palácio do Governo

A menos de uma quadra dali está a Plaza Grande, ou Praça da Independência. É o coração do centro histórico e a primeira praça da cidade, ponto de atividades e reuniões políticas desde o século XVI. Neste local fica a sede do Palácio do Governo e a residência presidencial. O edifício é aberto para visitação pública com tours guiados Todas as segundas-feiras, pela manhã, é possível assistir o ritual da troca da guarda com a presença do presidente. Um espetáculo cheio de pompa, bastante prestigiado pelo povo.

No outro canto da praça está o Palácio Arcebispal onde funcionam vários restaurantes, cafeterias, lojas de produtos artesanais e galerias comerciais. É um excelente ponto para descansar num café vendo a paisagem e conhecendo um pouco mais do cotidiano dos quitenhos.


UN Women Gallery on Visual hunt

O conjunto arquitetônico dos prédios é completado com o Convento de São Francisco. A construção teve início em 1535. A fachada simétrica e as paredes brancas combinam com o campanário e seu harmônico pórtico talhado em pedra vulcânica.

Conta a lenda que o empreiteiro contratado para construir o pátio central ficou tão desesperado quando viu que não conseguiria entregar no prazo estabelecido, que fez um pacto com o demo. Entregaria a sua alma ao diabo se conseguisse terminar a construção antes do primeiro raio de sol do dia combinado. Durante a noite todos os diabinhos vieram do além e trabalharam incessantemente, porém o empreiteiro ligeiro e temente por sua alma retirou uma pedra do lugar, não deixando a obra pronta e salvando a sua alma. Ele havia passado a perna do capeta.

Verdade ou não, o fato é que ainda hoje é possível ver o local da pedra que falta na construção.

La Ronda

O charme maior desta região da cidade está em La Ronda, com sua arquitetura que transporta o turista para um lugar onde o tempo parece passar lentamente. Lá ficam ateliês de artistas, músicos, restaurantes, galerias de arte e tudo o que se pode encontrar na capital equatoriana de tempos passados.

Os melhores hotéis da cidade estão no Mariscal Sucre, o bairro mais descolado. Certamente o turista brasileiro ficará hospedado lá. Para chegar ao centro histórico dispense o táxi (baratíssimo por sinal) e caminhe. A partir do Parque El Ejido, onde existe uma interessante feira de artesanato leva-se cerca de 20 minutos a pé até os principais conjuntos de edifícios históricos.


Foto:
 Visita Quito on Visual Hunt

No city-tour por Quito visite o Estádio Atahualpa, orgulho dos equatorianos. Quando souberem que estão à frente de brasileiros qualquer torcedor fará questão de lembrar que naquele local o Equador derrotou o Brasil nas eliminatórias das copas de 2002 e 2006 e empatou em 2010.

Outro ponto obrigatório para quem gosta de comprar presentes finos artesanais é a Galeria Ecuador Gourmet, onde 115 produtores locais e três mil produtos estão expostos. São 12 salas temáticas onde o turista encontra o que há de melhor na arte do país. No local é possível comprar café de várias procedências e o famoso chocolate orgânico Pacari, fabricados com diversas porcentagens de cacau. Pacari é uma marca conhecida mundialmente e há cinco anos ganhou uma competição suíça como o melhor chocolate do mundo. Tem que conferir.

O Equador é um dos países com as mais variadas paisagens do continente americano. Bosques, picos escarpados e praias virgens combinam com a mais pura selva amazônica. A riqueza dos antepassados moradores destas terras conserva-se nos ritos e tradições da comunidade indígena, que passa de pai para filho suas tradições e lendas. O Equador guarda o gosto ancestral em seu ambiente.

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