Posso estar sendo exagerada no que vou dizer, mas acredito realmente que a grande maioria dos brasileiros, se não conhecem, tem o sonho de conhecer a Europa. Eu não fugia a regra. Quando percebi que a oportunidade de conhecer o velho continente estava batendo a porta, eu senti dentro de mim uma curiosidade e uma paixão nascer, que vive e cresce até hoje.
Tipo esperança quando brota, ou sorriso de criança quando recebe promessa de presente de Natal. Há quem faça viagens internacionais desde sempre e talvez não entenda esse texto, pois quem sabe não lembra ou não guardou na memória o dia em que pisou fora de casa. Mas sei que meu primeiro dia, lá do outro lado do oceano, foi um dia inesquecível, apesar de absurdamente simples.
Minha primeira viagem para fora do Brasil, foi para Lisboa. Fui no inverno, no final de janeiro. Desembarquei no aeroporto pela madrugada, e quando o avião pousou, desci e já senti o vento gelado. Apesar de Portugal não ser dos países mais frios, para uma brasileira em primeira viagem, era muito frio. Mas não me incomodei. A excitação era tanta, que apesar de o aeroporto ser comum, o enxergava lindo. O sol ainda não tinha nascido, o que fez parecer que estava ainda mais frio do que realmente estava. A verdade é que fui descobrir depois, em outras experiências, que aquilo nem de longe era frio, que fazia no máximo (ou melhor mínimo) 10ºC e que essa temperatura é considerado um inverno quente.
O casal de amigos que me hospedaria em sua casa foi me buscar, e apesar do cansaço de ter passado a madrugada inteira dentro do avião, não conseguia sequer fechar os olhos. Fomos até Benfica, onde era o apartamento deles, deixar as malas. Ao lado do prédio tinha uma padaria, e ainda no escuro fomos tomar café da manhã. Essa foi uma das experiências que mais me marcou. Mesmo que nessa época eu não tivesse conhecimento sobre a teoria do mindfulness já tentava o fazê-lo, ainda que inconscientemente. E foi dessa forma que guardei não apenas na memória aquele momento. O cheiro do expresso, da canela do pastel de nata, o friozinho e o sol que nascia manhoso, o sotaque dos portugueses que faziam comentários sobre o jornal, tudo aquilo formaram um presente perfeito, que guardo com carinho na caixinha de tesouros.
O sol finalmente nasceu. Fomos até o Cabo da Roca, o ponto mais Ocidental da Europa. O vento era forte e não me atrevia a chegar perto do ponta da rocha. Depois voltamos para Lisboa, rente ao mar. Parando em vários outros lugares, o único que eu de fato lembro o nome é a Garganta do Diabo. Entre as paradas para fotos, lembro que sentei em um bar à beira mar, ouvia o som das gaivotas misturado com o som da rebentação das ondas, sentia o vento frio e bebia uma cerveja portuguesa chamada Sagres. Não era preciso dizer muito. Antes de entrar no carro para irmos embora descansar, lembro de respirar fundo uma última vez. Para ter certeza que esse instante também entraria na caixinha de tesouros. Está lá.
Fotografias em nossa alma
Apesar de ser fotógrafa, tenho certeza que existem momentos, que mesmo que seja eternizado por imagens, é preciso que nossa alma os grave para que de fato se tornem imortais. E embora não tenha nada de muito especial em meu primeiro dia na Europa, foi único e meu.
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