Desde a minha infancia, nos anos 80, o jogo de tabuleiro War (Risk) é um dos meus favoritos, não porque eu queria “conquistar” o mundo através de uma guerra, mas porque o mapa me fascinava. Um dos territórios que mais me chamava atencão era o da Mongólia. Um país distante do Brasil, “trancado” pela Rússia (na época URSS) e pela China, do qual não se tinha muita informacão (fosse na escola ou na mídia, além do fato de na época eu não ter internet). Eu também não conhecia ninguém que o tinha visitado, ou seja, somente tinha conhecimento da cultura nômade, dos cavalos típicos e da sua importância histórica devido a Genghis Khan.
A Mongólia está entre os 20 maiores paises do mundo em extensão territorial (aproximadamente 1.566.000 km²) – cerca de seis vezes menor do que a vizinha China -, com aproximadamente 3 milhões de habitantes, o que o torna um dos paises com menor densidade populacional do mundo. O budismo é a principal religião, e o idioma oficial é cirílico.
Em 2013, descobri um programa canadense chamado Departures, que desde então tem me inspirado em várias viagens. E um dos episódios que mais me marcou foi o da Mongólia, especialmente pelos lugares que visitaram e pela interação com os locais, algo que eu prezo muito. Em 2016 quando estive na Rússia, o meu caminho se cruzou com Bayaraa, que na época morava em Sochi, e se tornou meu melhor amigo mongol.
Um ano depois, em agosto de 2017, tive a oportunidade de vivenciar o verão da Mongólia por duas semanas. Durante os seis meses que precederam a viagem, enquanto me preparava, convenci dois amigos – um brasileiro e um alemão – a se juntarem a mim em parte da minha aventura.
A Mongólia é um país dividido em 21 províncias (aimags) e a capital, Ulan Batur, que apesar de estar situada na província de TOV, tem governo próprio (similar ao Distrito Federal-Brasília, geograficamente pertencente a Goiás). Como teria apenas duas semanas neste país “gigantesco” e com várias atrações, foquei em experenciar um pouco das regiões central, norte e sul.
Apesar de a maioria da população não se comunicar em inglês, pude interagir com diversos locais (fundamental ajuda de Bayaara) e vivenciar a fantástica hospitalidade nômade mongol, dormindo nas tradicionais tendas nômades, como a típica yurt (também conhecida como ger) experimentando comidas típicas como qurut (biscoito de queijo seco), orom (crème calórico de cabra, iak e vaca), airag (leite de égua) , Suutei tsai (chá com leite ) e Arkhi (leite de vodka).
Área central
Visitei a capital, Ulan Batur, que tem diversos monumentos, palácios, templos, karaokês e é conhecida pela poluição. Assisti competições esportivas, como um jogo de futebol e a luta popular mongol Bökh.
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Estive também no parque nacional Gorkhi-Terelj, há 37 km a oeste da capital, uma área que conta com o rio Tula e muitas formações rochosas. No caminho para o parque fica a imponente estátua equestre de Genghis Khan, inaugurada em 2008, com cerca de 30 metros de altura.
Há cerca de cinco horas de Ulan Batur está localizada a cidade de Karakorum, fundada por Genghis Khan em 1220 e conhecida como a antiga capital do Império Mongol (1235- 1260) e muito importante para a rota da seda.
Norte
Ao norte, meu grande objetivo era conhecer a região de Taiga – próxima à fronteira com a Sibéria –, onde se encontra o lago Khövsgöl (mesmo nome da província), que fica a 1645m acima do nível do mar e que em inglês é apelidado de “irmã mais jovem do lago Baikal” (“younger sister of the lake Baikal”).
A cidade de Mörön, capital da provincia de Khövsgöl, fica há cerca de uma hora de voo de Ulan Batur (12 horas via terrestre). Lá, é o último ponto para comprar itens básicos, como comida, água, papel higiênico etc., para a aventura.
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Depois de cerca de 12 horas numa kombi com tracção 4×4, passamos uma noite em uma yurt com a família do nosso motorista. No dia seguinte, tendo o filho do motorista e um amigo dele como guias, seguimos cerca de 40 km pela fantástica região de Tsagaan Nuur, somente acessível a cavalo. No percurso, peguei sol e chuva e atravessei rios, uma floresta boreal e um vale de estepe chamado “Harmae”.
Ao vivenciar o cotidiano das comunidades nômades de Tsaatan, aprendi que as renas e os cavalos (ambos fornecedores de leite) são importantíssimos para eles e descobri que é possivel ser feliz sem a infraestrutura que estou acostumado, como banheiro, energia elétrica, televisão e internet.
Sul
Uma das atrações turísticas mais visitadas no país é o famoso deserto de Gobi, considerado o quinto maior do mundo. Ele cobre o sul da Mongólia e parte do norte e nordeste da China. Gobi ocupa aproximadamente 30% do território mongoliano e é muito mais do que um deserto, pois é composto de estepes, montanhas, areia (sendo somente 5% de dunas), além de diversos animais (camelos, àguias douradas, gazelas, marmotas, ursos e repteis, dentre outros) e vegetação (exemplo: arbustos adaptados a seca). O local é considerado importante para a arqueologia (devido achados de fosseis, incluindo os primeiros ovos de dinossauros), e também pelos minerais como cobre, ouro e carvão.
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Fomos de avião para a cidade de Dalanzadgad, na província de Ömnögovi e passamos dois dias explorando de picape, na companhia de um nativo, a região de Gobi. Visitamos o Parque Nacional de Gurvan Saikhan, estepes, cânions, sítios arqueológicos e andamos a cavalo e de bicicleta pelo vale de Yol. No deserto, ficamos hospedados com os nômades, novamente em yurts, andamos de camelo e subimos as dunas Khongoryn, que chegam a 80 m de altura.
A maior parte dos turistas estrangeiros visitam a Mongólia com agências de turismo. Como meu amigo Bayaraa me acompanhou e foi meu tradutor para o inglês em diversas situações, eu consegui fazer essa viagem por conta própria, o que me proporcionou uma experiência diferente, além de econômica.