Me joguei aqui do outro lado do mundo, na Austrália, para aprender uma nova língua. Gradativamente estou progredindo.Nesse tempo aqui, evitei ouvir músicas e ler livros em português, porque pensei que poderia me atrapalhar.
Mas agora cedo meu café da manhã foi ao som de Secos e Molhados, e regado de pão de queijo com poesia mineira. De certa forma, como cheguei com pouco inglês na bagagem, tirar de mim o meu único refúgio me ajudou a me sentir confortável com outras linguagens.
Mas não sei se um dia vou me sentir em casa como me sinto com meu português brasileiro. A minha língua mãe carrega a minha história, a minha criação, como eu “virei gente”, carrega a história da minha terra, a colonização do meu país. Acho ruim ser regionalista e achar que têm mesmo uma linha que nos divide, mas essa linha imaginária é a história que nos precede.
É a origem do travesseiro abraçado pela fronha. É dar gênero pras palavras.É chamar a Flor por “a” e o vaso por “o”. Antes e ainda hoje, eu penso, mas que bobeira, quem foi que disse que “uma mão na roda” é coisa boa. Aliás, olha “bobeira” que palavra bonita, toda cheia de graça, graça então como que é uma palavrinha caprichada.
Sinceramente dei muita sorte em nascer em uma terra que fala português brasileiro.Nossas palavras têm história, nossas palavras que são só nossas têm saudade.Nossas palavras conversam entre si e fazem poesia na escrita, na fala, em um simples “Bāodia”.
Aprender novas línguas, faz muito bem pra nossa percepção de mundo, de si. Mas pra mim o português brasileiro é a minha casa, é o colo de mãe pra onde eu corro quando meus sentimentos não cabem. A gente nunca sabe toda história por trás das palavras e por trás daquele que nos lê ou nos escuta.
A linguagem é isso, um quase dizer o que quer e quase ser compreendido. E nesse quase, novas línguas nos apresentam novos caminhos, novos jeitos de tentar dizer, se expressar.
Essa semana eu termino o curso que me propus a fazer. As vezes me perguntam se já estou fluente, fluente nunca vou ser nem em português, porque às vezes a gente não conhece e não cabe nas palavras. E se eu estou me virando bem?! Que brasileiro que não se vira, não é mesmo?!
Mas sim, estou melhorando e sempre aprendendo.Mas na dúvida de que linguagem usar, usemos o amor. Ele sempre sabe falar quando as palavras não cabem.
Por Raquel Rosa
Compartilhe conosco sua história, sua experiência e referências. Seja um colaborador Lugares Pelo Mundo.