Waldeinsamkeit : a ligação alemã com a natureza

19 de agosto de 2020
LPM

A beleza dos idiomas e como uma língua pode influenciar cultura e modos de viver e pensar é algo que comumente debatemos aqui, no Lugares Pelo Mundo. Acreditamos no poder das palavras e a como elas se manifestam em nós de maneira mágica e poderosa. 

Uma dessas palavras é “Waldeinsamkeit”. Essa palavra grande e quase impronunciável para nós, falantes da língua portuguesa, carrega em seu significado um sentimento intraduzível e espiritual. 

Waldeinsamkeit é uma palavra alemã, combina  Wald  (“madeira”) e  Einsamkeit  (“solidão”). Juntos,  Waldeinsamkeit se  traduz literalmente como “solidão na floresta”. Porém a literalidade não traduz a poesia e beleza desse sentimento expresso por tal, que refere-se ao sentimento de estar sozinho em meio a natureza e sentir-se um com ela. Você já teve essa experiência? 

A palavra refere-se aquele momento em que depois de uma trilha de horas você chega ao topo de uma montanha com a vista que te tira da realidade e te faz perceber o ar entrando em seus pulmões e naquele momento você se sente parte, se sente um. 

Waldeinsamkeit  é a sensação de quando o ar parece mais pesado e denso, e o sol não te encontra pois as folhas das árvores te cobrem e você parece estar dentro, estando fora. Escuta os estalos da madeira ao longe, o canto de um pássaro perto e a vida que antes parecia fora, agora é interna. 

Em 1858, Ralph Waldo Emerson, um escritor norte-americano publicou um poema sobre esse sentimento revelado de maneira tão simples e rica pela palavra alemã: 

Waldeinsamkeit 

Eu não conto as horas que passo
⁠Em vagar pelo mar;
A floresta é minha amiga leal,
⁠Como Deus, ele me usa.
Nas planícies, esse espaço para sombras cria
⁠De contornando colinas para mentir,
Preso por riachos que dão e recebem
⁠Suas cores do céu;
Ou no sublime crista da montanha,
Ou pela clareira de carvalho,
O que tenho eu a ver com o tempo?
⁠Para isso o dia foi feito.
Cidades de mortais ai do fim
O cuidado fantástico ridiculariza,
Mas na paisagem séria, solitário
O benefício da popa permanece.
O brilho vai manchar, mel cloy,
⁠E alegre é apenas uma máscara de tristeza,
Mas, sóbrio em um fundo de alegria,
Os bosques no fundo estão contentes.
Lá as grandes plantas plantadoras
⁠De mundos férteis o grão,
E com um milhão de feitiços encanta
⁠As almas que andam com dor.
Ainda nas sementes de tudo que ele fez
A rosa da beleza queima;
Através de tempos que se desgastam e formas que desaparecem,
⁠A juventude imortal retorna.
Os patos negros montando no lago,
⁠O pombo nos pinheiros,
O boom do amargo, um deserto fazer
Que nenhuma arte falsa refina.
Para baixo em seu recanto aquoso,
Onde brumas barbadas se dividem,
Os velhos deuses cinzentos que o Caos conheceu,
Os senhores da natureza, escondam-se.
Aloft, em secretas veias de ar,
⁠Sopra o doce sopro da música,
Ó, poucos para escalar aqueles planaltos ousam,
Embora todos pertençam!
Não traga para o campo ou para a pedra
As fantasias encontradas nos livros;
Deixe os olhos dos autores e busque os seus,
⁠Para desafiar os looks da paisagem.
E se, em meio a este querido deleite,
⁠Meus pensamentos se recuperaram,
devo considerá-lo um pouco
Para grande alegria que encontrei.
Esquecimento aqui é a tua sabedoria,
⁠Tua economia o sono de cuidados;
Para uma ociosidade orgulhosa como esta
Coroa todos os assuntos mesquinhos da vida.

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