A viagem vive em nós

23 de outubro de 2018
Marcela e Thiago

Viajar pode ser um processo transformador. Seja uma viagem a lazer, de trabalho ou um simples bate-volta para visitar a família, algo inesperado pode acontecer.

Nesse primeiro texto fomos buscar as memórias de momentos marcantes em que viajar mudou a nossa realidade e nos abriu o pensamento para novas possibilidades. Esse processo, depois de várias experiências, nos direcionou a criar o projeto Movido a Cultura.

Assim começa a nossa história.

A surpresa dela

“Quando fui selecionada para participar de um intercâmbio em Portugal não imaginava  o quanto a minha vida iria se transformar. Tinha 22 anos, era uma menina de Porto Alegre que nunca tinha viajado de avião muito menos saído do país. Viajar para o exterior era algo distante, um desejo que não conseguia ver forma de concretizar. Me inscrevi para a seleção sem muita expectativa, quase não fui na reunião explicativa e quando cheguei era tanta gente no salão da universidade que achei que não teria chance. Mas eu fiquei, escutei os requisitos necessários para concorrer à bolsa de estudos e a cada requisito falado alguns estudantes abandonavam o salão, aí pela primeira vez cogitei que teria alguma chance.

Entreguei a documentação na última hora e só uma amiga minha sabia que estava participando do processo.

Segui a minha vida e um mês depois recebi um email de uma colega de curso perguntando:

 “Como assim tu vai para Portugal e não nos contou?”

Foi assim que descobri que tinha sido selecionada, mas nesse momento ainda não tinha a dimensão do que essa experiência representaria na minha vida.”

 

A influência dele

“Uma das memórias que tenho da minha infância é a de sair da escola e caminhar até à agência de viagens onde a minha mãe trabalhava, na Ilha da Madeira, Portugal. Seguia o caminho que ela tinha ensinado, às vezes desviando por alguma distração de algum coleguinha ou por algo que me despertava a curiosidade mas logo voltava ao caminho, tinha medo de me perder ou atrasar! E lá ía eu pensando nos meus problemas de criança, “o que é o almoço hoje?” ou “logo que terminar a lição vou brincar”, sempre seguindo o caminho que a minha mãe tinha ensinado.

Entrar naquela agência era mudar de realidade, uma injeção de informações. Cartazes coloridos de praias paradisíacas, carros compridos e estranhos com famílias sorridentes de braços estendidos que mais tarde aprendi que eram montanhas russas, os telefones que tocavam em sua cadência quase cronometrada e lá na sua mesa, a minha mãe. Era incrível observá-la responder aos colegas em português, atender as chamadas em inglês e me explicar que a palavra “willkommen” significava bem vindo em alemão.

Acredito que enquanto fazia as minhas lições de casa ou pintava algum desenho, fui absorvendo aquela atmosfera vibrante.

Tive oportunidade de viajar com ela, não foram muitas vezes porque as condições não permitiam mas todas me marcaram profundamente e moldaram a pessoa que sou.”

 O inesperado aconteceu

Viajar foi o denominador comum para que as nossas histórias se cruzassem na Ilha da Madeira onde nos apaixonamos e decidimos trilhar o caminho juntos. A partir do momento que iniciamos esse relacionamento, a viagem tem sido uma parceira na nossa história, assim como a partida. Pouco tempo depois de começarmos a namorar a Marcela seguiu o seu intercâmbio na França antes de retornar ao Brasil e o Thiago foi estudar gastronomia em Lisboa. Assim aprendemos que a paciência também faz parte da viagem. Mantivemos uma relação à distância por cerca de dois anos. Embora a tecnologia já permitisse mantermos contato, essa foi a parte turbulenta do voo, muita saudade, insegurança e medo do desconhecido.

Mas tal como a viagem nos separa daqueles que amamos, ela também nos une e hoje, 10 anos depois do nosso primeiro encontro, estamos casados e prontos para compartilhar as nossas histórias com vocês.

Nos últimos anos, temos aprendido a apreciar mais as oportunidades que as nossas escolhas nos trouxeram. As pequenas coisas, as despedidas, as frustrações, os reencontros, novas amizades, novos empregos e as transformações pessoais que a viagem tem nos trazido.

Acreditamos que o conhecimento é um patrimônio que deve ser de todos e que se as nossas vivências podem de alguma forma ajudar alguém, devemos partilhar esses aprendizados para que se multipliquem.

 

 

Uma arte educadora e um cozinheiro que partilham as cores e os sabores do mundo através das suas viagens. Juntos criaram o Movido a Cultura nas redes sociais.

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