No inicio de fevereiro de 2018 tive a honra e a oportunidade de fazer o primeiro cruzeiro ferroviário Expresso das Luzes do Norte em pleno no inverno russo com o objetivo de conhecer e caçar a aurora boreal, além de vivenciar a experiência de viver a baixo de 0° em cidades grandes e belas como Moscou, São Petesburgo, Kirovks e Murmanks.
Ao chegar em Moscou da janela do avião se vê um mundo totalmente branco, cinza, opaco e gélido, mas ao sair do aeroporto e nos dirigir ruma ao centro da cidade a visão já muda e constatamos que a primeira impressão não é a que fica, já que a cidade de Moscou mantém as luzes de natal, cujo valor investido pela prefeitura gira no entorno de 15 milhões de euros, o que faz com que o centro da cidade fique belíssimo, encantador, único e aquece o coração de todos.
Esta é a primeira dica do roteiro, ir a Moscou em janeiro para ter a certeza de ver as luzes, já que em fevereiro nem sempre elas ficam acesas. O Kremilin, o Balé Bolshoi, a Praça Vermelha e o Shopping Gum ficam todos coloridos. Inclusive na Praça Vermelha até altas horas da noite as atrações da feira de natal e pista de patinação ficam abertas ao público e é muito divertido.
Moscou além destas atrações conta com ótimos restaurantes e com decorações bem inovadoras. As estações de Metro e o Bunker de Stalin fazem da cidade uma viagem no tempo, uma vez que cada estação conta uma história e está ligada a uma época da Rússia. Já o Bunker é uma atração imperdível aos amantes da guerra fria. Ao final embarcamos em um trem com todo o luxo e conforto rumo a Murmansk, cidade fechada até 1990 e de suma importância estratégica para a Rússia.
São mais de 2.500 KM, duas noites e um dia no trem, mas tendo as companhias certas as conversas e as paisagens vistas pelas janelas fazem da viagem uma atração cativante. Como nós brasileiros não temos a cultura de andar de trem, viver isso, ou seja, dormir em uma cabine, desfrutar dos vagões bares e restaurantes é muito bom. Me fez lembrar os livros de época que lemos sobre a Europa e como seus personagens tais quais Hercules Poirt de Aghata Christie ou Anna Kariênina de Liev Tostói viajavam de uma cidade a outra. Chegamos a Kirovks, primeira parada no círculo polar ártico. Pequena cidade no meio do nada, mas que conta com uma importante estação de esqui e um parque de gelo com esculturas e túneis feitos de gelo.
No dia seguinte já em ônibus fomos na direção de Murmansk e no caminho visitamos uma aldeia lapônica. Curtimos as atrações como jogar bola na neve, andar de trenó, brincar com os Huskies siberianos, alimentar as renas e caminhar pelo local. Ao final do dia chegamos a Murmunks. Eu não sabia o que esperar desta cidade, pois quando procuramos no Google pouco se acha sobre ela. Confesso que ela encanta com suas luzes de natal, claro não tão suntuosas como de Moscou, mas são na medida certa para o tamanho da cidade.
Aqui as histórias da Rússia Czarista e da União Soviética se fundem. O Cazar Nicolau II ordena a construção da ferrovia de Moscou até a Península de Kola, pois aqui o mar nunca congela nem nas temperaturas mais extremas, e desta forma a Rússia teria uma saída ao atlântico sem precisar depender de tratados de paz, já que as saídas seriam via o Mar do Norte, Mar Báltico (Escagerraque) e via o Mar Negro (Istambul/Estreito de Bósforo).
Com o advento da União Soviética os lideres dão sequência a construção e ampliação da cidade. Enfim, muitas coisas ocorreram lá como ter 95% da cidade destruída por bombas nazistas e lançamento do primeiro navio quebra gelo com propulsores nucleares e que navegou da Rússia ao Japão no alto do inverno de 1957.
Hoje ele é um museu e conta os feitos deste navio que no auge da guerra fria fez com que os Estados Unidos desse uma trégua as rivalidades e enviasse seu presidente para visitar e estreitar as relações diplomáticas com o intuito de juntos desbravarem a região do Polo Norte. No Navio-museu há fotos e vídeos. Também na cidade tem o monumento ao naufrágio do submarino Kursk que nos anos 2000 deixou o mundo todo angustiado e comovido pela morte dos seus marinheiros. A cidade pulsa e vive em função do porto e do shoe de luzes da aurora boreal. Caçar a Aurora Boreal é uma aventura simplesmente maravilhosa e desafiadora. Nesta região caçasse entre às 22:00 e a 01:00 da manhã, pois estatisticamente são a melhores horas para aprecia-las. Nem sempre as vemos. Das três vezes que caçamos, só conseguimos ver a olho nu na última tentativa. As que vimos eram verdes e um pouco avermelhadas. Eram luzes dançantes que flutuavam como uma seda no céu, como águas-vivas em um oceano de cor azul escuro e intenso. É uma experiência única e inesquecível. Ainda hoje fecho os olhos a noite e elas dançam para mim.
De Murmanks embarcamos no trem novamente e mais um dia e uma noite até chegar em São Petersburgo. Chegamos na antiga capital da Rússia Imperial. Esta por incrível que parece foi a cidade mais fria, não pela temperatura em si, mas sim porque é a mais úmida, o que faz a sensação do frio ser mais intensa. A cidade nos recebeu toda de branco e com todos os seus canais congelados. Confesso que diferentemente de Moscou que gostei mais no inverno do que no verão, São Petersburgo é mais encantadora no verão do que no inverno, apesar de que é um novo olhar sobre a cidade, pois visitar a fortaleza de São Pedro e São Paulo, ver a Igreja do Sangue Derramado com suas cúpulas salpicadas de branco e os jardins de Peterhof completamente branco é sensacional.
Por fim, o que mais eu gostei desta experiência foi ver um mundo diferente, pessoas e cidades vivendo normalmente em temperaturas bem abaixo de zero. De ver um país e uma região do mundo se abrir pouco a pouco para o turismo, já que diferente da Lapônia finlandesa ou da Região de Thompson na Noruega, nem tudo está pronto. Me senti um explorador, um viajante conhecendo um mundo novo e em transformação. E, para mim que conheço mais de 53 países, ter a experiência de desbravar foi algo que só senti quando estive no Uzbequistão.
Em resumo as coisas que eu mais gostei desta viagem foram as experiências de viver a abaixo de zero, de ver a natureza, as cidades e o povo, e é claro as luzes do norte. Mas, se por um capricho do destino não tivéssemos visto a Aurora Boreal, mesmo assim a viagem teria sido magnifica. A Aurora Boreal só coroou tudo que vi e vivi e fez com que o adjetivo gravado nas minhas memórias fosse a palavra “perfeito”.
Por Fabian Morandi Saraiva
Viajante por profissão e explorador por paixão, desde muito cedo viajo pelo mundo, pois venho de uma família cujo ramo empresarial é o turismo. Formado em Comércio Exterior pela Unisinos atuei por 11 anos no setor de exportação de cargas em três multinacionais que me deram a visão de um mundo organizacional multicultural e dinâmico, onde o mundo impacta nossas rotinas diariamente. Com esta bagagem ingressou no ramo do turismo na Uneworld Viagens e Turismo, com a responsabilidade de diversificar os negócios da empresa já que a mesma atuava exclusivamente nos destinos sul-americanos. Estando a mais de 10 anos na empresa, foi feito um giro importante e hoje a empresa se destaca não só pelos roteiros para América do Sul, mas também para outros destinos como Europa, Ásia, África, América do Norte e Caribe. Entretanto, suas paixões têm sido cada vez mais os destinos árabes e os roteiros feitos em trens, o que chamamos de cruzeiros ferroviários.