Deauville: a cidade das inovações de Coco Chanel

3 de janeiro de 2020
Andrea Miramontes

Cidade elegante virou marco de Chanel, que impôs novos estilos para a mulher moderna

Imagine um balneário francês de casas em estilo normando, dos séculos 16 ao 18, no qual Coco Chanel, ainda moçoila aos anos 20, vestia-se com criações confortáveis e ousadas de roupas consideradas “inadequadas para mulheres” na época. Assim é Deauville.

A cidade fica a cerca de 200 km de Paris. Para chegar até lá, é possível ir de trem, porém o que eu indico é que se alugue um carro na capital e siga esse roteiro de 7 dias. A experiência é incrível e você poderá fazer uma viagem completa pela região da Normandia.

Visitar Deauville é entender a fundo o “art de vivre” francês, que significa embriagar-se no que uma cultura tem de melhor e mais belo a oferecer – a “arte de viver”. A cidade também é palco do Festival do Cinema Americano, que anualmente lota a pequena Deauville com astros de Hollywood.


Estábulo de Deuville onde cada baia homenageia um ator famoso. Foto: sebastien letellier on Visualhunt.com

Além das praias, Deauville é conhecida por palácios, cassinos e mansões à la Belle Époque, período de cultural  por volta de 1870 a 1914 que teve seu fim com a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Essa arquitetura pode ser vista, principalmente, no centro da cidade, que também vai te entreter com as vitrines das muitas lojas que existem por lá.

O mercado que se forma nas ruas é uma oportunidade excelente para provar os queijos normandos, principalmente o trio famoso: camembert,  livarot e  pont-l’Êveque, raros no Brasil. Outra coisa que você também não encontra em terras tupiniquins são os cassinos. Não deixe de conhecer o Cassino Barière, aberto na Europa em 1864. Divirta-se nas máquinas e de jogos de mesa.


Foto: @bodil on VisualHunt.com

Coco Chanel: talentosa e ousada

Andar por Deauville também é entender um pouco da história de Coco Chanel, a estilista que desafiou seu tempo e mudou a forma como as mulheres de toda uma época passaram a se vestir. Avessa ao espartilho, dominante na época, e além do seu tempo, Gabrielle — nome verdadeiro de Coco — usava calças de montaria e casacos considerados “masculinos”. Indiferente ao que falassem dela, afrontava bravamente jovens conservadoras de sua época.

Construída entre 1907 e 1912, essa mansão abaixo chama-se Villa Strassburger. Foi a casa do bilionário americano Ralph Beaver Strassburger, que comprou a propriedade em 1875 do famoso escritor francês Gustave Flaubert. O interior da mansão, que hoje virou um local para eventos, foi palco para o filme feito sobre Chanel.


Foto: Lado B Viagem

A estilista que revolucionou a moda escolheu justamente esse balneário francês para abrir sua primeira boutique na rua Gontaut-Biron, em 1913. Hoje, o centro ferve com as grifes mais famosas do mundo. Ela foi levada à cidade pelo amado inglês Arthur Boy Capel, que financiou seu primeiro passo na moda, ao abrir um salão especializado em design de chapéu, na Rue Cambon, em Paris.

Durante a Primeira Guerra Mundial, a falta de tecidos e o talento de Chanel levaram-na a criar ainda mais roupas casuais e práticas. Suas peças eram inspiradas em hipódromos, muito famosos em Deauville, em campos de golfe, de tênis e clubes náuticos. Gabrielle simplesmente detestava roupas desconfortáveis. Ousada, passou a se vestir e desfilar pela cidade com peças leves, inclusive com calças, que desafiavam os espartilhos da época.

Chanel reinventou a roupa masculina para conforto feminino, o que livrou as meninas das roupas pesadas da Belle Epoque. Mas o preço foi grande. Ela enfrentou todo tipo de preconceito com seu novo conceito de moda. Por despeito ou pura inveja, muitas tiravam onda com a estilista, entre os anos de 1910 e 1920: “Ela tem mau gosto”. Gabrielle abriu sua loja em Deauville, em um quarteirão que hoje abriga as grifes mais caras e famosas do mundo. Dá para visitar o lugar.

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