Num vilarejo bem afastado, no extremo norte do Vietnã, conhecemos Chô. Um vietnamita da etnia Flower Hmong, 30 anos, casado, 2 filhos, cozinheiro de mão cheia, dono de uma homestay super aconchegante no meio do verde e cheio de sonhos.
Lá, Chô nos guiou num trekking pelo vilarejo, passando por plantações de milho, campos de arroz, subindo e descendo montanha, cruzando terraços… e no meio de nossa caminhada, muita conversa. Ele nos contou um pouco mais sobre a história do Vietnã, o tempo que leva para plantar e colher o arroz, sobre a história de sua família, sobre as minorias étnicas que vivem nas montanhas e etc, etc.
Até que, motivada por uma inquietação que me acompanha sobre o sonhar, perguntei a Chô quais eram seus sonhos, e para minha alegria, ele disse que tinha muitos. Então, pedi a ele que me contasse sobre o maior deles, qual era o seu maior sonho. E eis que ele responde sem rodeios:
“Ter um namorado!”.
Uau!!!
Aquele sonho e a honestidade daquela resposta me tocaram profundamente. E tudo o que consegui sentir naquele momento foi a mais absoluta compaixão.
Chô nos contou que em sua vila isso jamais seria permitido. Sua mãe não o compreende e até já recorreu a um xamã para “ajudá-lo”. Sua primeira esposa o deixou quando soube disso e sua esposa atual, do alto de seus 26 anos, não se importa. Afinal, o que ela tinha que fazer, segundo a cultura local, já havia feito, já estava casada.
A história de Chô ainda me acompanha… e as perguntas brotam.
Porque, ainda hoje, temos nossa felicidade e liberdade cerceadas por padrões, determinações culturais e incompreensão do diverso, daquilo que não se encaixa no senso comum?
Quanto de coragem ainda nos falta para enfrentar tudo aquilo que nos impede de realizar nossos sonhos mais profundos?
E qual será então a missão de cada “Chô” espalhado pelo mundo?
Desejo, profundamente, que cada um de nós possa manifestar sua verdade, com dignidade e sabedoria, e que se atreva a viver em plenitude, para que assim, ajude a libertar todos os demais, que de alguma maneira ainda sofrem e vivem em prisões invisíveis.