Somos parte do mundo

13 de março de 2018
LPM

Durou horas de carro para subir parte da serra nevada no interior de Portugal. Fechamos os olhos pois as curvas eram muito fechadas e o enjoo era inevitável. Era preciso parar um pouco, para poder respirar. Paramos ainda na metade do caminho, era final do inverno, e alguns pequenos rios surgiam do derretimento da neve correndo morro abaixo, olhando para cima dava para ver o cume da Serra da Estrela, toda branquinha.

Esquecemos o enjoo na hora, o ar que entrava nos pulmões era fresco e puro. Respiramos várias vezes, devagar, como se fosse possível guardar um pouquinho daquela atmosfera para respirar mais tarde e poder lembrar do cheiro de terra molhada, e como as árvores ganhavam vida ao se aproximar de uma nova estação. Tudo fazia com a gente entendesse que está tudo, perfeitamente, encaixado.

A cada passo uma superação

Isso nos lembrava de um outro momento, dessa vez na Noruega. Nessa outra aventura superamos nosso medo de altura e chegamos até o topo do monte Floyen. A cada passo uma superação. Ao chegar no topo, era como se fosse mágica. Tinha acabado de nevar, e lá de cima dava pra ver a cidade toda, as casas com uma fina camada branca. O branco parecia brilhar, tal qual o verde, no dia que descemos o fiorde Geiranger. O mar entrava pelos vales milenares, e faziam um show de tons de verdes. As águas refletiam a vegetação, ou o contrário? Não sabemos ao certo o que refletia o quê, com efeito de espelho. Mas foi impossível não se emocionar ao olhar aquela imensidão verde. Também fazíamos parte desse encaixe, pequenos ali parados, olhando.

Cores vivas no pulmão do mundo

O verde também estava presente quando descemos o Rio Negro. E o pulmão do mundo respirava tranquilo, no seu próprio tempo. Populações ribeirinhas nos levaram para andar de caiaque e nos explicaram sobre os ygarapés. Tudo parecia fluir naturalmente. Não era só o verde que explodia nos nossos olhos, mas todas as cores vivas de uma floresta tão rica. O céu virava uma mistura de amarelo, vermelho e laranja quando o sol se punha no final do rio e faziam um espetáculo a parte. E apesar de nem sempre abraçarmos a natureza, ela sempre nos agracia e nos faz sentir bem-vindos dentro dela.

Há também os surpreendentes tons de azul, que paleta de cores alguma conseguiriam reproduzir, da Gruta do Lago Azul. Estalactites milenares que descem do teto da gruta, em silêncio profundo, mostrando a paciência do tempo como escultor. Parece um templo natural onde a paz passeia, indo diretamente ao nosso encontro, de tal sorte que nos mostra que sim, somos pequenos, somos breves, mas estamos todos ligados.

As experiências citadas foram vividas individualmente, por pessoas diferentes, cada um em um lugar. Mas assim que as compartilhamos, transformamos o pessoal em coletivo. Cada pequeno pedaço que se junta  criando um mosaico colorido, vivo, conectado: partes do mundo.

Crédito: Vinicius Bacarin

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