América do Sul – Integração cultural pela gastronomia

19 de maio de 2025
LPM

A realização do Festival América do Sul 2025 foi marcado por uma verdadeira explosão de sabores, aromas e encontros culturais em Corumbá (MS). Mais do que um evento artístico e multicultural, o festival reafirma a gastronomia como elo central entre os povos da América do Sul — especialmente entre Brasil, Bolívia e Paraguai.

América do Sul - Integração cultural pela gastronomia
Crédito: Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul

Com sua localização estratégica na tríplice fronteira, o Mato Grosso do Sul tornou-se um território de encontros. E é à mesa que essa fusão se expressa com mais intensidade. A edição deste ano valorizou os sabores que contam histórias de migração, tradição e resistência — mostrando que comer é, acima de tudo, um ato de pertencimento.

A culinária do Mato Grosso do Sul é um reflexo direto da sua geografia e história. Entre os pratos que ganharam destaque no festival, está a saltenha boliviana, uma empanada recheada com carne, ovo, azeitona e um molho levemente adocicado e picante. Muito consumida nas manhãs bolivianas, ela encontrou no MS uma nova casa, sendo vendida em feiras, mercados e lanchonetes.

A chipa, originária do Paraguai, também marcou presença. Feita com polvilho, queijo e ovos, é uma espécie de pão de queijo mais firme e perfumado. Em muitas famílias sul-mato-grossenses, é tradição preparar chipa em feriados e datas especiais.

Ao lado da chipa, veio também a sopa paraguaia — que, apesar do nome, é um tipo de torta salgada feita com milho, queijo e cebola. Densa e saborosa, ela representa o afeto e a fartura das mesas do interior.

América do Sul - Integração cultural pela gastronomia
Crédito: Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul

O festival também apresentou pratos menos conhecidos, mas igualmente marcantes, como o locro, uma sopa espessa feita com milho branco, carne de porco e abóbora, bastante consumida em países andinos como a Bolívia e o norte da Argentina. No MS, ganhou versões locais com ingredientes do Cerrado e do Pantanal.

Outro destaque foi o bolo de arroz, típico da região sul-mato-grossense, preparado com arroz cru batido, queijo e especiarias. É um quitute simples, mas muito amado, geralmente servido em cafés da manhã ou como acompanhamento de refeições mais leves.

Também brilharam nas cozinhas do festival pratos como:

Pintado ao urucum: peixe típico do Pantanal, temperado com urucum e ervas locais, símbolo da conexão entre natureza e tradição.

Carne de jacaré: servida grelhada ou empanada, com molhos regionais, mostrando como o MS integra práticas sustentáveis à sua culinária.

Pacu assado na folha de bananeira: prato pantaneiro que preserva a suculência do peixe e exalta os sabores naturais do bioma.

Arroz carreteiro com charque: herança dos tropeiros, é um prato que percorreu o interior do Brasil e foi adaptado à fartura da região.

Empanadas de mandioca: versão criativa que une o ingrediente típico do Brasil com o modo de preparo andino.

O tereré, bebida gelada feita com erva-mate, foi presença constante no festival — símbolo maior da amizade e da hospitalidade na região de fronteira. Assim como a chicha, bebida fermentada de milho, de origem indígena, que conecta saberes ancestrais às novas gerações.

América do Sul - Integração cultural pela gastronomia
Crédito: Debora Bordin – Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul

Não foram apenas os sabores que marcaram o festival. O Porto Geral de Corumbá foi tomado por ritmos ancestrais durante o último dia de programação. O local, já conhecido por sua beleza cênica e simbolismo fronteiriço, se transformou em palco de celebração e resistência da cultura afro-brasileira.

Entre os destaques estiveram a roda de curimba, com cantos e batidas sagradas das religiões de matriz africana, e a oficina de capoeira, conduzida com a técnica “capitães de areia” — uma abordagem que une acrobacias, musicalidade e narrativa histórica. Mais do que apresentações, esses momentos foram verdadeiros convites à escuta, ao diálogo e ao reconhecimento das raízes negras que moldam a identidade pantaneira e brasileira.

Gastronomia como identidade continental

Mais do que pratos, o que se viu no Festival América do Sul foi a celebração de uma identidade única, formada ao longo dos anos por trocas espontâneas entre povos vizinhos. A gastronomia do Mato Grosso do Sul é, hoje, um verdadeiro espelho dessa integração — com sabores do Brasil, da Bolívia, do Paraguai e de tantos outros cantos do continente.

Ao valorizar os saberes e sabores da fronteira, o festival não apenas promove o turismo e a economia local, mas também fortalece os laços culturais entre os países da América do Sul. Porque, no fim, a comida é muito mais do que sustento — é ponte, é memória e é celebração.

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