Já ouviu falar em Zittau, na Alemanha? Provalmente não… Eu sempre tive uma conexão muito forte com a minha avó, mas não sabia que seria eu a pessoa responsável por realizar um sonho que ela não conseguiu concretizar.
Em 2010, dona Ingeborg, esperava ansiosa pelo transfer que a levaria até a estação de trem de Praga até Zittau, uma cidadezinha tipicamente Alemã, localizada no distrito de Görlitz, região administrativa de Dresden, estado da Saxônia onde ela viveu dos 6 aos 16 anos com sua família, durante a Segunda Guerra Mundial, antes de precisar fugir para o Brasil.
Porém, por uma ironia do destino, quando foi subir as escadas do hotel em que estava hospedada para pegar um casaco em seu quarto e seguir rota para a cidade onde passou grande parte de sua infância, ela se desequilibrou e caiu, o que gerou uma fratura em seu fêmur esquerdo e impossibilitou que ela continuasse sua viagem, tendo que voltar às pressas ao Brasil.
Anos se passaram, e mesmo com uma recuperação quase total da fratura, ela não conseguiu voltar ao lugar que sempre contou com brilho nos olhos sobre suas histórias e experiências únicas. Hoje, com 92 anos de idade, essas memórias foram involuntariamente apagadas dela, por conta de uma disfunção causada pela idade.
Conhecendo Zittau na Alemanha
Eu sempre tive um sonho de conhecer a Alemanha, mas visitar Zittau parecia algo tão inalcançável, afinal, como eu conseguiria, na minha primeira viagem internacional, chegar numa cidade do interior do país? O quanto eu teria que sair da minha rota para chegar até lá? A cidade sofreu muito com a Segunda Guerra, e se ela praticamente quase não existisse mais? Foram inúmeras perguntas que se passaram na minha cabeça, mas em um piscar de olhos, eu já estava dentro de um trem, saindo de Berlin e partindo em direção a Zittau, com a companhia do meu namorado.
Quando chegamos no hotel, já era tarde da noite e precisávamos descansar para o dia seguinte. Acordamos cedo e caminhamos pelas proximidades, onde havia um parque e coincidentemente, o Olbersdorfer See, um lago envolto por muita natureza, do qual eu sempre escutava nas histórias da minha avó. E em um suspiro longo, eu me encontrei admirando uma das paisagens mais lindas que meus olhos já viram. Tudo ali parecia um cenário de filme. Foram inúmeras as vezes em que eu já havia pesquisado sobre essa cidade, mas por não ser um destino turístico, as informações foram escassas, o que tornou toda a experiência ainda mais mágica.
E é claro que foi impossível conter as lágrimas diante daquele momento. Foram tantas emoções, que até escrevendo sobre isso agora, eu me emociono. Olhando para aquele lago e tudo à sua volta, eu conseguia enxergar perfeitamente a minha avó criança brincando, rindo e se divertindo muito naquele lugar.
Zittau e um novo significado
Bernardo, meu namorado, colocou ao fundo uma música do André Rieu, porque sabia que ele era o músico favorito da minha avó e nos abraçamos forte, enquanto admiramos a calmaria do local, os patinhos nadando tranquilamente e o vento soprando de forma leve em nossos rostos. Até que, em um movimento rápido e espontâneo, ele se ajoelhou e fez aquela pergunta que eu mais ansiava ouvir: “Você quer casar comigo?”. E aquilo deu um novo significado para a cidade, deixando-a ainda mais importante, do que poderia ser.
Horas depois, seguimos em direção ao centro da cidade, onde você pode imaginar uma praça com uma igreja, um chafariz e construções antigas, porém muito bem reformadas e conservadas. E, mais uma vez, eu fui capaz de enxergar minha querida avó em cada cantinho daquele lugar. Estar ali foi uma sensação de dever cumprido, porque eu sei que se tinha alguém que deveria fazer isso por ela, esse alguém era eu. E eu fiz.