Tambaba, o reino do naturismo

14 de setembro de 2019
Irineu Ramos

A vida é um eterno aprendizado. A cada dia é preciso reavaliar o que não serve mais e deixar de lado pesos sem valor. Seguir adiante é inserir novos valores e costumes à rotina. A liberdade assusta e encanta. O naturismo coroa esta sensação. E isso é tudo de bom.

Foto: Irineu Ramos

Espalhadas pelo mundo existem praias e fazendas para naturistas. Isso não é uma novidade. No geral estão situadas em países mais desenvolvidos e em paraísos turísticos. Comumente a população destes locais tem mentalidade menos preconceituosa e encaram a nudez como algo sublime, longe da tão comum visão erótica do corpo. No Brasil há alguns desses paraísos. Na costa da Paraíba, no distrito de Tacumã, município do Conde, Tambaba surge como uma das mais encantadoras para a prática do naturismo.

A praia é a mais procurada da região também pela beleza de tirar o fôlego, com suas piscinas naturais, falésias e formações rochosas. Distante 17 quilômetros da capital, João Pessoa, é conhecida pela prática do naturismo, a primeira do Brasil.

Foto: Irineu Ramos

O gerenciamento da praia é feito pela Sociedade Naturista de Tambaba, entidade responsável pelas normas de conduta ética como meio de garantir um padrão de comportamento na praia. Entre as regras estabelecidas estão aproibição de filmagens ou fotografia, sem autorização, a obrigação de nudez total para entrar no local, a proibição total de qualquer comportamento ou praticas sexuais e proibição do uso de drogas.

Em 2008 a praia sediou o 31º Congresso Internacional de Naturismo, organizado pela Federação Internacional de Naturismo. O congresso, bianual deu repercussão a Tambaba, colocando-a no roteiro internacional das praias para prática do naturismo. Para ter a dimensão da importância do evento basta dizer que, proporcionalmente, é comparável a receber uma olimpíada.

Foto: Irineu Ramos

A topografia do local é intimista. Em forma de concha, abraça, guarda e protege carinhosamente os naturistas através de falésias multicoloridas e pedras negras imponentes, evitando acesso de intrusos e visitantes indesejáveis. Pedras negras que emergem das águas instigam cada olhar a descobrir novas imagens, bem como imaginar como era o lugar séculos passados.

A área verde é bem diversificada, incluindo resquícios de mata atlântica, vegetação ciliar, flores tropicais e muitos coqueiros, cujo balançar das palhas ao vento transmite sossego e paz. Uma poesia que cria forma com o canto suave dos pássaros da região. Trilhas ecológicas pela mata permitem apreciar a vista do alto das falésias.

Na praia funciona uma pousada e um restaurante que atendem os visitantes. Num primeiro momento estranha-se todo mundo sentado em torno das mesas e sem roupas. A equipe que presta serviço no local (garçons e outros funcionários) está sempre vestido obedecendo a uma determinação da vigilância sanitária. Entrar no mar sem roupa é uma experiência única e uma sensação de liberdade difícil de explicar.

Foto: Irineu Ramos

A história de Tambaba começou com um pequeno grupo de frequentadores que, no final dos anos 1980, atraídos pela beleza da praia, resolveu banhar-se nu; convidaram amigos, que convidaram outros. O grupo cresceu e os banhos ao natural tornaram-se prática rotineira nos finais de semana. À medida que a notícia se espalhou, surgiram as reclamações, de pessoas da comunidade, de membros da igreja e até de alguns vereadores. Hoje tudo é paz e o local, um paraíso.

Origem do nome

Vem do tupi-guarani e tem dois significados:conteúdo das conchas e monte de Vênus. Conta a lenda que uma bela índia chamada Tambaba apaixonou-se por um guerreiro de outra tribo. O pai dela não permitiu a união dos dois. Tambaba desesperada com o seu destino começou a chorar e suas lágrimas inundaram as terras secas formando um lago e posteriormente uma praia cujas ondas suaves vinham de seu soluçar.

Encantada com o milagre que se via, suplicou ao deus sol e á deusa lua que eternizassem aquele lugar como templo do amor e da vida. Suas preces foram prontamente atendidas.

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