No São João, a alegria do arraial paraibano

21 de outubro de 2020
Irineu Ramos
Foto: Imagem: Marco Pimentel/Divulgação

O forró, a fogueira e a quadrilha são a cara desta festa que embala os brasileiros e leva milhares de turistas para o Nordeste durante o mês de junho. Duas cidades disputam o título do Maior São João do Mundo: Campina Grande/PB e Caruaru/PE. Algumas outras, como Estância, no Sergipe, correm por fora e começam e entrar no páreo. Organizadas e com infraestrutura para atendimento ao turista, estas localidades profissionalizam o evento trazendo alegria e diversão com segurança.

Canjica, cuscuz, pipoca, bolo de milho, curau, arroz-doce, bolo de amendoim, broa de fubá, quentão e vinho quente são apenas algumas das iguarias que são a marca do mês de junho. No Brasil inteiro se comemora. Mas, festa mesmo, só no Nordeste.

Foto: Reprodução

Muitas mudanças aconteceram desde que as primeiras celebrações foram organizadas. A festa de rua transformou-se numa indústria que fatura milhões de reais e atrai turistas de todo o Brasil. Hoje, as grandes empresas aproveitam a visibilidade das três cidades e investem pesado em campanha de marketing com distribuição de brindes. Patrocinadores nacionais disputam cotas em busca de maior espaço no mercado consumidor. Os hotéis ficam lotados durante todo o período. Em 2018, cerca de três milhões de pessoas passaram pelas cidades e lá deixaram 320 milhões de reais e ajudaram a criar 25 mil empregos temporários, diretos e indiretos, conforme os organizadores.

Quem vai a busca apenas do forró pode ficar decepcionado. Para atrair cada vez mais turistas a organização abre mão da exclusividade do tradicional ritmo nordestino e investe em nomes consagrados nacionalmente para as apresentações nas áreas dos eventos. Atualmente a festa atrai fatia significativa dos públicos A e B. Gente que gosta de se divertir e disposta a gastar com qualidade no atendimento.

Foto: Governo do estado da Paraíba

A maior e mais agitada cidade do interior paraibano, Campina Grande, situada a 132 quilômetros da capital João Pessoa, atrai cerca de dois milhões de visitantes nos 31 dias de festa. Tudo acontece no Parque do Povo um espaço que ocupa uma área de 42 mil metros quadrados e é o centro dos acontecimentos do São João. Hoje o evento é totalmente profissionalizado e de repercussão nacional. Tanto que é recomendado pelo Ministério do Turismo que divulga a cidade e as marcas patrocinadoras.

 Para o visitante que supõe que o período junino é o único atrativo é bom saber que a cidade oferece muito mais. A região de Campina Grande engloba 60 cidades que representam a porta de entrada para o Cariri paraibano. Tanto que no roteiro turístico de grandes operadoras está incluído a vista de um dia inteiro na Fazenda Casa de Cumpadi – Olho D’Água, a única localidade que retrata o São João durante o ano todo.  Administrada por João Walberto de Araújo, filho de família tradicional da Paraíba, um apaixonado pela vida rural. A fazenda tem 230 hectares e ocupa dois municípios: Fagundes e Galante, um distrito de Campina Grande.

Nesta fazenda o turista pode saborear o que há de melhor na culinária sertaneja. Pratos que vão do pão de milho (cuscus) a cabeça-de-galo (pirão feito com ovo, farinha e verduras) famosa por tirar a ressaca. Sem contar a oportunidade de viver durante um dia inteiro a rotina do campo, o que inclui participar de um forró, novenas, conhecer a casa de peão, tirar leite dos animais, passear a cavalo, charrete, tirolesa, fazer trilhas ecológicas e muito mais. Nos finais de semana cerca de 150 visitantes conhecem o local.

Foto: Governo do estado da Paraíba

Campina Grande está situada a 551 metros do nível do mar, na Serra da Borborema. A altitude dá a cidade um clima diferenciado, com temperaturas bem agradáveis à noite e no inverno.       O espírito rural está reproduzido no conhecido Sítio São João, localizado na Rua Manoel Tavares, próximo do viaduto, no Jardim Tavares. Idealizado por João Dantas, cenógrafo, ator e diretor teatral membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, há 19 anos o ‘sítio’ reproduz a vida de antigamente nas cidades nordestinas. Lá estão a tipografia de revistas de cordel, engenho e moenda de cana de açúcar e, é claro, um palco para apresentações e área para dançar o forró. O programa é ideal para o publico da melhor idade. Um local para relembrar o passado e fazer amigos.

Oscar Niemeyer

No centro da cidade está a última construção projetada pelo escritório do arquiteto Oscar Niemeyer. O Museu de Arte Popular da Universidade Estadual da Paraíba é conhecido como o Museu dos Três Pandeiros e ainda se organiza para abrigar obras de artistas paraibanos como Sivuca, Jacson do Pandeiro, Marinês e Elba Ramalho. A construção em três grandes círculos é forrada com 126 painéis de vidro.

 A construção foi erguida sobre o Açude Velho, um lago numa das áreas mais nobres da cidade. Circundando o açude, um calçadão largo é ponto ideal para caminhadas no final da tarde e início da manhã.

Outro ponto obrigatório é o Memorial do Maior São João do Mundo. Nele estão os registros dos primeiros festejos, cartazes de divulgação e a companhia da professora Cléa Cordeiro, uma campinagrandense apaixonada pelo evento e uma das precursoras da festa que completa 30 anos. Ouvi-la contar as histórias é um encanto.

Foto: Reprodução

Campina Grande é berço de grandes artistas como Elba Ramalho, Genival Lacerda e celebridades como Assis Chateaubriand, Huck (da seleção de futebol), Pezão (lutador de UFC) entre outros.

Na hora que a fome bate o visitante tem que provar a galinha de capoeira (cozida na gordura, feijão verde, arroz de festa, arroz branco, cuscus, mandioca cozida, batata-doce grelhada, abóbora, molho pardo e vinagrete) do restaurante Mororó, uma casa de culinária regional que atende 220 pessoas ao mesmo tempo. O prato, que serve até seis pessoas, sai por R$79,00.

No Açude Novo ou Parque Evaldo Cruz, no centro, um obelisco com 42 metros de altura marca uma parte da história da cidade. O local ocupa uma área de 46 mil metros quadrados com muitos bancos e árvores, assim como pequenos restaurantes que ficam em volta de uma fonte. No passado ali existia um açude de verdade. Hoje apenas uma fonte e um espelho d’água marcam envolvem o pilar central.

Não muito distante dali, o Calçadão Cardoso Vieira é ponto de frequência diária de aposentados em busca de um bom papo e de um café, no São Brás, ali do lado. A Vila do Artesão Assis Chateaubriand é o ponto de convergência dos que buscam o melhor da arte e artesanato da região. A arte sacra está na Catedral e Paróquia Nossa Senhora da Conceição, onde em vários horários os católicos podem acompanhar missas. Em frente a catedral, o Museu Histórico de Campina Grande.

Lajedo Pai Mateus

Uma boa pedida para o turista que visita a região é conhecer, ainda, o Lajedo de Pai Mateus, uma formação rochosa localizada na cidade de Cabaceiras, uns 45 minutos de carro de Campina Grande. As pedras são consequência do desgaste do solo ao longo de milhões de anos, em função de fissuras naturais e grandes variações de temperatura. Em algumas delas são encontradas pinturas rupestres atribuídas aos índios cariris, que viveram na região há cerca de 12 mil anos.

O nome do lajedo deve-se à lenda de Pai Mateus, um ermitão curandeiro que teria vivido naquela região por volta do século XVIII e não cobrava dinheiro em troca de suas curas, apenas comida. A formação fica a cerca de 25 quilômetros da cidade de Cabaceiras (acesso por estrada de terra) e está situado dentro de uma propriedade particular, o Hotel Fazenda Lajedo Pai Mateus.

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