Como é ser uma brasileira na Europa?

9 de maio de 2022
Euro Dicas

Antes de decidir deixar o Brasil, é bem provável que você já tenha se perguntado como é ser uma brasileira na Europa, certo? Responder a essa pergunta não é tão simples quanto pode parecer, já que nós podemos falar de muitos aspectos diferentes que envolvem essa decisão.

Mas hoje, vou contar aqui como eu vejo essa experiência e vou falar um pouco sobre os principais desafios de ser uma mulher que imigra para um país europeu.

Como é ser uma brasileira na Europa?

Ser uma brasileira na Europa é estar disposta a recomeçar tudo e lidar com o desconhecido. Quando mudamos de país, abrimos mão de tudo o que já é conhecido: família, amigos, trabalho, lazer e até os problemas que já são velhos conhecidos. 

E, no novo país, é preciso começar tudo outra vez: aprender como e onde resolver as infinitas burocracias, onde procurar trabalho, em qual lugar morar e fazer novos amigos e contatos profissionais.

Mas se você tem certeza dos motivos que a levaram a escolher fazer a mudança, com certeza está determinada a enfrentar essa tempestade de novidades. E, se esse motivo é mesmo consistente, passado um tempo, é bem provável que você pense que tudo valeu a pena, por mais que não tenha sido fácil em muitos momentos. E não vai ser fácil às vezes, eu garanto. Mas pode valer muito a pena também.

Antes de falar sobre os desafios que uma brasileira enfrenta na Europa, é bom ressaltar que o que falo aqui é resultado da minha experiência como imigrante e de tudo o que eu vivi ou vi andando por aí. 

Além disso, também é importante lembrar que, quando falamos de Europa, na verdade estamos falando de muitos lugares diferentes, que têm suas próprias características culturais. Ou seja, as vivências variam não só de uma mulher para outra, como de um país para outro. Portanto, nada de generalizar!

Existe preconceito contra brasileiras na Europa?

Ainda existe sim, infelizmente! Não dá para fechar os olhos e negar os momentos em que nos deparamos com um preconceito, e em algumas situações somos obrigadas a lidar com isso. 

Por outro lado, também podemos comemorar. Eu vejo que o cenário tem melhorado um pouco com o passar dos anos, e talvez a própria presença de tantas mulheres brasileiras mundo afora ajude a diminuir o preconceito.

Acho que todo mundo sabe que em alguns lugares as mulheres brasileiras sofrem preconceitos. Por vezes, a justificativa é o nosso jeito mais amigável e caloroso. Outras vezes, o preconceito só é fruto do desconhecimento, de uma ideia deturpada sobre esse jeito diferente de viver, já que os europeus (não sempre, mas de modo geral) são mais contidos e reservados. E nem sempre o preconceito é visível, às vezes ele vem disfarçado, de mansinho.

Mas nem tudo é ruim, muito pelo contrário. Apesar de alguns momentos difíceis e de situações que podem parecer injustas, ser uma brasileira na Europa também pode nos fazer viver muitas coisas boas. 

Em contraponto aos preconceituosos que esbarram no nosso caminho às vezes, também conhecemos muita gente que respeita o Brasil e as brasileiras, que quer saber mais sobre a nossa vida, nossas opiniões e nossas experiências. E essa é a melhor parte, é quando surgem boas amizades e uma troca de cultura intensa.

Quais os principais desafios das mulheres brasileiras que emigram para a Europa?

As mulheres brasileiras que decidem mudar para a Europa lidam com os mesmos desafios que a maior parte dos imigrantes, além de algumas situações específicas.

Encontrar um lugar no mercado de trabalho europeu não é a tarefa mais fácil. Em geral, é preciso penar um bocado para conseguir mostrar o nosso valor profissional. Tenha consciência de que, antes de você conseguir um trabalho, é possível que passe pela situação perder uma vaga para alguém com menos qualificação profissional, somente porque os nacionais são prioridade na seleção. Mas não desista, a hora chega!

No ambiente acadêmico, por exemplo, também é relativamente comum ouvirmos queixas sobre a diferença de tratamento dado às alunas brasileiras. Em Portugal, especificamente, de tempos em tempos, há notícias sobre alunas que sofreram algum preconceito em sala de aula, seja pelo jeito de falar, de escrever ou mesmo de se vestir.

Mercado de trabalho para brasileiras na Europa

Já comentei antes que a questão do mercado de trabalho é um dos grandes desafios, certo? E é mesmo, pelo menos para a maioria das mulheres, e as dificuldades são devidas a vários motivos.

Eu diria que o primeiro é o fato de sermos imigrantes, e é bem comum que nos processos seletivos os nacionais do país tenham preferência para ocupar as vagas. Uma boa dica para lidar com isso é buscar informações sobre as empresas que costumam contratar imigrantes, como as que procuram especificamente por profissionais que falam português.

Outra dificuldade é a valorização do currículo obtido no estrangeiro. Além de precisar validar os diplomas brasileiros para que eles sejam aceitos em outros países, em alguns casos a experiência profissional no Brasil pode não valer tantos pontos na avaliação.

Entretanto, com insistência e um bocado de paciência, você chega lá. Talvez, antes de conseguir uma boa vaga de trabalho na Europa, você tenha que trabalhar em alguma área completamente diferente da sua. Aconteceu comigo, acontece com muita gente. 

Mas tudo bem! Tente relaxar e aproveite a nova experiência, nem que seja apenas para conhecer um trabalho diferente. E claro, siga estudando, melhorando o seu currículo e se candidatando às boas vagas que encontrar. 

E lembre-se de que existem muitas formas de trabalhar, além do trabalho tradicional com contrato. Muitas mulheres brasileiras que vivem na Europa trabalham como freelancers, nas mais diferentes áreas. Além disso, também é possível morar na Europa e trabalhar para o Brasil.

Encontrar um bom emprego pode ser um desafio.

Vantagens de ser mulher, mesmo que brasileira, na Europa

Na minha opinião, e digo isso sem dúvida nenhuma, a maior vantagem de morar na Europa é me sentir segura. Como eu já comentei em um outro artigo, não existe país perfeito ou 100% seguro. Mas em Portugal, onde eu moro, ou em outros países que já visitei, sempre me senti bem segura para caminhar e desbravar novos lugares.

Felizmente nunca passei por uma situação real de perigo e percebi que os sustos que levei eram resultado de memórias de insegurança do tempo em que eu vivia no Brasil.

Para não falar só do sentimento de segurança, também vou destacar outra vantagem de morar na Europa. A facilidade de viajar é outra coisa que me encanta bastante, já que as passagens têm preços acessíveis (embora não sejam baratíssimas) e os deslocamentos são curtos e fáceis. É incrível a possibilidade de poder passar o fim de semana em um país diferente!

Dicas para mulheres brasileiras na Europa 

Se você passar por alguma situação desconfortável quando estiver na Europa, tenha calma. Nos momentos em que você sentir o preconceito de perto, avalie o que é melhor fazer naquela situação. Se você estiver tranquila e segura e achar que vale a pena, se proponha a conversar com quem foi preconceituoso com você. Pode ser o início de uma reflexão e mudança de opinião.

Mas lembre-se de que você não tem a obrigação de combater discriminação e sexismo sempre. Portanto, se estiver desconfortável ou não se sentir segura, apenas se proteja e cuide de você e dos seus sentimentos.

Tenha em mente também que, em caso de situações mais graves, é sempre possível procurar ajuda, seja em associações de defesa de imigrantes, em órgãos de proteção aos estrangeiros ou mesmo na polícia local.

Como eu disse lá no começo deste artigo, a ideia aqui era compartilhar experiências pessoais e reais e, por isso, foi preciso contar os aspectos menos empolgantes de ser uma mulher brasileira na Europa. Mas que fique bem claro, eu considero que é uma decisão que pode valer muito a pena, desde que seja o que você realmente queira. Colocando tudo na balança, os momentos mais difíceis e mesmo os ruins, não superam nem de longe as boas experiências que podem ser vividas.

E você que já fez essa travessia e agora mora na Europa, quais são as suas experiências no país onde vive? Eu quero saber!

Autora: Tié Lenzi, do Euro Dicas.

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