Ser mulher em Portugal: as diferenças em relação ao Brasil

25 de outubro de 2021
Euro Dicas

Quando nós escolhemos morar em outro país, parece inevitável observar as diferenças que existem entre um e outro lugar. Acho que isso é bem saudável e muito interessante, já que é uma forma de conhecer diferentes culturas e outra formas de levar a vida. Neste artigo, vamos falar um pouquinho sobre como é ser mulher em Portugal. Vamos lá?

Ser mulher em Portugal: existe diferença?

O primeiro ponto que deve ser dito é: em alguns aspectos não existem muitas diferenças entre ser uma mulher no Brasil ou em Portugal. Esse comentário é relativo às situações às quais todas as mulheres contemporâneas, de uma maneira ou de outra, estão submetidas. 

Mas, neste artigo, eu escolhi alguns assuntos para mostrar quais são as principais diferenças que eu percebo no meu cotidiano. Vale lembrar que são as minhas opiniões, de acordo com a minha experiência pessoal. Cada mulher vive e sente as situações de uma maneira diferente. 

Eu escolhi falar sobre segurança, apoio à maternidade, movimento feminista, políticas públicas para a mulher, xenofobia, estética e padrão de beleza. Vamos lá?

Sentimento de segurança

Coloquei a segurança em primeiro lugar nesta lista porque é, definitivamente, o grande diferencial positivo quando comparo o sentimento de ser mulher no Brasil e em Portugal.

Todos nós sabemos que problemas de segurança e criminalidade existem em todos os países, não existe nação perfeita. Mas em Portugal a sensação de segurança é muito mais palpável.

Esse assunto já foi tema de conversa com muitas mulheres, e a opinião é unânime. Em Portugal, ao andar na rua (mesmo à noite) ou pegar um táxi, por exemplo, nos sentimos bem seguras.

O país tem registros de índices de criminalidade baixos, e isso se reflete claramente na maneira como uma mulher se sente no dia a dia. Segundo o relatório Women, Peace and Security (Mulheres, Paz e Segurança) edição 2019/2020, Portugal é o 17º país mais seguro para mulheres dentro dos 167 analisados. O Brasil, nesta edição, ficou classificado em 98º.

Portugal é bem seguro e muitas mulheres experimentam viajar sozinhas pelo país.

Apoios à maternidade

Eu não sou mãe, mas tenho amigas que se tornaram mães em Portugal e com quem já conversei sobre o assunto. Além disso, também pesquisei quais são os apoios oferecidos pelo governo português durante a maternidade.

A licença maternidade pode durar de 120 a 180 dias (com mais 30 dias, em caso de filhos gêmeos). Já o subsídio maternidade – que é parental, pois pode ser dividido com o pai da criança, tem um  valor referente a 80% a 100% do salário da mãe (ou do pai, caso seja ele a tirar a licença para cuidar da criança).

As mães também têm outros direitos assegurados por lei, como dispensa do trabalho por 1 hora para amamentação (até que a criança complete 1 ano), permissão para trabalho em regime de home office (até os 3 anos da criança) e proteção contra a demissão.

Outra ajuda financeira disponível é o complemento creche, um auxílio de 60€ que pode ser pago para as famílias que tenham mais de um filho.

Movimento feminista

Em Portugal, existem diversas organizações do movimento feminista. Inclusive, já tive contato com o trabalho de alguns desses grupos que se organizam em torno de pautas fundamentais para as mulheres.

Não considero o movimento melhor e nem pior do que no Brasil, apenas diferente. A forma de organização é diversa, assim como o modo de trabalho da agenda feminista. Acredito que isso seja devido às diferenças culturais que existem entre os dois países. De toda forma, acompanhar e contribuir para os debates feministas em Portugal é uma experiência bem gratificante e enriquecedora.

Entre as questões mais importantes para o movimento feminista português estão a busca pela igualdade de gênero na prática, em vários aspectos, como oportunidades de trabalho, acesso a cargos públicos, igualdade salarial, independência financeira e divisão equitativa do trabalho e dos cuidados domésticos. 

A luta pela proteção e conscientização contra a violência de gênero e a violência doméstica também é uma pauta bastante discutida no país. 

Políticas públicas e direitos das mulheres

Portugal tem investido bastante na criação e na execução de algumas boas políticas públicas direcionadas especificamente para a proteção das mulheres e de seus direitos.

Em 2018, por exemplo, o país aprovou a Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação. Esse plano prevê uma série de medidas que devem ser implementadas até 2030, em três pilares: igualdade entre mulheres e homens, prevenção da violência contra as mulheres e da violência doméstica e combate à discriminação pela orientação sexual, identidade e expressão de gênero.

A preocupação com a igualdade salarial também tem se destacado no país, que tem o dia 10 de novembro marcado como o Dia Nacional da Igualdade Salarial. Em 2019, entrou em vigor a primeira lei que criou mecanismos para implementar efetivamente salários iguais para homens e mulheres.

Para quem se interessa sobre esse tema, eu indico conhecer o trabalho de alguns órgãos que atuam na proteção dos direitos das mulheres em diferentes áreas: Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Gênero (CIG), Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) e Associação Portuguesa de Mulheres Juristas (APMJ).

Garantir a igualdade no ambiente de trabalho é uma das preocupações do governo português.

Xenofobia

A xenofobia existe, e isso é inegável. Mas também é verdade que não podemos generalizar sobre ela. De modo geral, posso dizer que me sinto muito bem recebida em Portugal, e (felizmente!) foram as raras as ocasiões que percebi algum preconceito por ser uma mulher e imigrante brasileira no país.

Quando isso acontece, procuro agir conforme a situação pede. Por exemplo, se percebo que alguém se manifesta agressivamente com um preconceito baseado em uma ideia estereotipada da mulher brasileira, normalmente eu encerro o assunto e já não dou espaço para a abordagem.

Por outro lado, se eu noto que o preconceito está mais para uma manifestação de desconhecimento, eu me permito conversar para ajudar a refletir e desconstruir ideias equivocadas. Essa postura já me permitiu ter ótimas conversas com pessoas abertas a uma boa troca de ideias.

Pressão estética e padrão de beleza

Este é outro ponto que me chama bastante atenção. Eu, particularmente, gosto muito da forma como as mulheres portuguesas se apresentam e se vestem. É um estilo mais despojado, com o qual me identifico bastante.

Também acho importante explicar que as pressões estéticas e a busca por um padrão de beleza atinge as mulheres portuguesas (como a todas as mulheres do mundo), mas tenho a impressão de que isso acontece de uma forma mais suave.

Talvez uma outra mulher possa discordar dessa minha opinião, ou talvez seja só a minha percepção pessoal mesmo. Mas em Portugal eu me sinto mais livre para me comportar e me apresentar exatamente como eu sou (ou me sinto em um determinado momento). É como se eu estivesse mais confortável na minha própria pele. Conhece esse sentimento?

Em resumo, ser mulher e viver em Portugal tem suas vantagens e desvantagens, como acontece em qualquer lugar do mundo. O mais importante é descobrirmos em qual parte do globo nos sentimos seguras e em casa. 

Autora: Tié Lenzi, do Euro Dicas.

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