Por entre montanhas, os sonhos

28 de junho de 2019
Luana Fonseca

Num vilarejo bem afastado, no extremo norte do Vietnã, conhecemos Chô. Um vietnamita da etnia Flower Hmong, 30 anos, casado, 2 filhos, cozinheiro de mão cheia, dono de uma homestay super aconchegante no meio do verde e cheio de sonhos.


Lá, Chô nos guiou num trekking pelo vilarejo, passando por plantações de milho, campos de arroz, subindo e descendo montanha, cruzando terraços… e no meio de nossa caminhada, muita conversa. Ele nos contou um pouco mais sobre a história do Vietnã, o tempo que leva para plantar e colher o arroz, sobre a história de sua família, sobre as minorias étnicas que vivem nas montanhas e etc, etc. 


Até que, motivada por uma inquietação que me acompanha sobre o sonhar, perguntei a Chô quais eram seus sonhos, e para minha alegria, ele disse que tinha muitos. Então, pedi a ele que me contasse sobre o maior deles, qual era o seu maior sonho. E eis que ele responde sem rodeios: 
“Ter um namorado!”. 
Uau!!! 


Aquele sonho e a honestidade daquela resposta me tocaram profundamente. E tudo o que consegui sentir naquele momento foi a mais absoluta compaixão. 


Chô nos contou que em sua vila isso jamais seria permitido. Sua mãe não o compreende e até já recorreu a um xamã para “ajudá-lo”. Sua primeira esposa o deixou quando soube disso e sua esposa atual, do alto de seus 26 anos, não se importa. Afinal, o que ela tinha que fazer, segundo a cultura local, já havia feito, já estava casada. 


A história de Chô ainda me acompanha… e as perguntas brotam. 
Porque, ainda hoje, temos nossa felicidade e liberdade cerceadas por padrões, determinações culturais e incompreensão do diverso, daquilo que não se encaixa no senso comum? 


Quanto de coragem ainda nos falta para enfrentar tudo aquilo que nos impede de realizar nossos sonhos mais profundos? 


E qual será então a missão de cada “Chô” espalhado pelo mundo? 
Desejo, profundamente, que cada um de nós possa manifestar sua verdade, com dignidade e sabedoria, e que se atreva a viver em plenitude, para que assim, ajude a libertar todos os demais, que de alguma maneira ainda sofrem e vivem em prisões invisíveis. 

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