O Pantanal sul-mato-grossense, no coração da América do Sul, pulsa com vida, biodiversidade e sabedorias ancestrais. Diante dos desafios ambientais cada vez mais urgentes como queimadas, desmatamento e mudanças climáticas, uma nova geração de protagonistas está surgindo armada com um recurso poderoso: a tecnologia.

Esta união entre inovação científica e conhecimento tradicional vem transformando a maneira como se pensa e se faz conservação ambiental no Brasil, especialmente no Mato Grosso do Sul. O estado se tornou uma referência nacional no uso de tecnologias aplicadas à proteção ambiental e, sobretudo, à promoção de soluções sustentáveis que respeitam e integram as comunidades locais.
Nos últimos anos, o Pantanal enfrentou queimadas que consumiram mais de 1,5 milhão de hectares em apenas dois meses, de acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E para combater essas ameaças, cientistas e organizações ambientais têm apostado em plataformas de monitoramento em tempo real que utilizam imagens de satélite, sensores térmicos e dados meteorológicos para prever focos de incêndio.
O sistema ALARMES (Alerta de Área Queimada com Monitoramento Estimado por Satélite) desenvolvido pelo LASA é um exemplo dessas soluções. O projeto apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), fornece dados quase em tempo real sobre áreas queimadas, permitindo ações mais rápidas e coordenadas de contenção do fogo, reduzindo drasticamente os impactos ambientais e sociais.
Monitoramento no Pantanal em Tempo Real: Inteligência contra o fogo

O uso de drones, estações meteorológicas e inteligência artificial tem sido fundamental para mapear áreas vulneráveis, acompanhar a saúde da vegetação e entender padrões de comportamento da fauna local. Essas tecnologias permitem ações mais precisas na proteção de espécies ameaçadas e na recuperação de áreas degradadas.
A plataforma Terrabrasilis, desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), oferece acesso a dados geográficos atualizados sobre desmatamento e queimadas, auxiliando na tomada de decisões estratégicas para a conservação do bioma.
Outro sistema é o “Pantanal em Alerta“, uma iniciativa do Corpo de Bombeiros, em parceria com o Ministério Público de Mato Grosso do Sul que visa auxiliar os proprietários rurais, brigadistas, autoridades públicas e toda a sociedade na prevenção e combate aos incêndios florestais no Pantanal.
Com identificação de focos de calor por satélites, a coleta de dados ocorre a cada uma hora para permitir identificar os locais onde estão ocorrendo prováveis incêncidos. Com um cadastro da localização, é possível monitorar as propriedades rurais com precisão para que seja possível acionar autoridades mais próximas à região.
Saberes ancestrais + inovação: Ações do Instituto Homem Pantaneiro
O futuro do Pantanal não será construído apenas com algoritmos. Diversas iniciativas têm unido tecnologia com os saberes dos povos tradicionais, comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas e pantaneiras que conhecem cada curva do rio e mudanças no seu bioma de acordo com o ciclo das águas. Um exemplo admirável é o envolvimento de comunidades locais no mapeamento participativo e no uso de aplicativos de coleta de dados ambientais, onde o conhecimento cotidiano vira ciência aplicada.
O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma das organizações que melhor traduz essa aliança entre inovação e conhecimento local. Atuando na região da Serra do Amolar, o IHP desenvolve projetos de monitoramento ambiental participativo, capacita brigadas comunitárias com o uso de GPS e drones para combate ao fogo e promove ações educativas que valorizam a cultura e a biodiversidade.

Um exemplo é o Projeto Cabeceiras do Pantanal. Desenvolvido pelo IHP, visa conservar e restaurar as nascentes e Áreas de Preservação Permanente da Bacia do Alto Paraguai, fundamentais para a saúde hídrica do Pantanal. É aplicado geotecnologia e dados de campo para monitorar áreas críticas, promovendo ações de recuperação ambiental e engajamento com proprietários rurais
Com o suporte da empresa brasileira AgroTools, especializada em geotecnologia e monitoramento remoto, foi criada a Plataforma GeoPantanal — um Sistema de Informações Geográficas que organiza e disponibiliza, via web, dados provenientes de satélites integrados a informações de campo, como monitoramentos ambientais e pesquisas científicas. Essa plataforma permite um diagnóstico detalhado da situação das nascentes e das Áreas de Preservação Permanente do Pantanal, uma ferramenta estratégica para orientar políticas públicas e apoiar a atuação de diferentes setores envolvidos na proteção e conservação do bioma pantaneiro.

Recentemente, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul firmou um acordo com o Instituto Homem Pantaneiro para reforçar o combate aos incêndios no Pantanal com o uso do sistema de monitoramento Pantera, que utiliza inteligência artificial para detectar sinais de fumaça em tempo real. Com câmeras cobrindo cerca de 1 milhão de hectares no Alto Pantanal, o sistema oferece resposta mais rápida que os satélites tradicionais, funcionando 24 horas por dia em regiões remotas como a Serra do Amolar, facilitando ações preventivas e de contenção do fogo.
Mais do que proteger um bioma, os projetos em andamento no Pantanal mostram que é possível construir um novo modelo de desenvolvimento onde inovação, natureza e protagonismo caminham juntos.