Arquiteta de Conversas

Maria
Clara

Nesta edição, conversamos com Maria Clara Lopes, especialista em comunicação. Sua missão? Acabar com os monólogos em grupo e criar espaços de diálogo genuíno. Para ela, as grandes mudanças começam com boas conversas – aquelas em que não precisamos concordar, mas sim escutar, refletir e construir juntos. 

Liderança e Propósito: Entre Narrativas e Coerência

Maria Clara se define como uma arquiteta de conversas e guardiã da coerência. Seu trabalho gira em torno de um conceito inovador: o ambiente onde ocorre uma conversa é tão (ou mais) importante do que a disposição dos participantes. 

Ela acredita que bons diálogos não dependem apenas das pessoas, mas das estruturas que facilitam ou dificultam trocas reais. Maria Clara trabalha para transformar esses ambientes, sejam reuniões corporativas, comunidades ou plataformas de comunicação social. 

“Quero ser conhecida como alguém que constrói ‘praças’ de conversa – modernas ágoras gregas – onde diferentes vozes podem se encontrar, gerar ideias e inovação, e, quem sabe, criar uma sociedade menos polarizada.” 

Como você vê o papel da liderança e do propósito no enfrentamento dos desafios globais atuais, como a sustentabilidade e a inclusão social?

A atuação das lideranças é fundamental para vencermos esses desafios. Por isso que sou a chata da coerência, porque a maior parte das narrativas hoje são só isso, histórias que viram os washes. O G, a governança, não tem o glitter do E e do S, mas sem governança, sem fazer de acordo, sem seguir compromissos, não existe Meio Ambiente e Social, DE&I.

Por isso que é preciso celebrar e investir nos ODIs, os Objetivos de Desenvolvimento Interno, porque se os líderes precisam desenvolver seu poder interno para poder tomar e, mais importante, sustentar as decisões tomadas. O momento atual é uma prova da falta de poder de muitas lideranças, de um lado, que estão cedendo na agenda ESG, principalmente abandonando o G. Não faltam informações científicas para sustentar as mudanças, mas falta coragem (que está nos ODIs) para bancar as mudanças que vão ao encontro do bem comum. 

Felizmente temos ótimos líderes que mostram que é possível. Precisamos inspirar mais líderes a virem para este lado. 

Quais ações ou iniciativas você vê acontecendo hoje no mundo que podem inspirar indivíduos e organizações a adotarem práticas mais responsáveis e sustentáveis?

Temos diversas iniciativas. Um movimento que passa despercebido no Brasil são as coop plataforms, cooperativas de plataformas, que mudam a forma de gestão da economia compartilhada, porque os ganhos são divididos pela cooperativa. Gosto muito de acompanhar as empresas no rating da Humanizadas, cujo algoritmo leva em conta os princípios do Capitalismo Consciente.

O movimento da Economia Donut, que a Plataforma Caleidoscópio apoia e participa, na figura da Simone Catalan, é muito importante também. Tenho olhado apreciativamente como caminho o conceito decrescimento. Agora, no universo do impacto positivo, a maioria das iniciativas são pulverizadas, em rede. Eu adoro me nutrir de esperança nos vídeos que unem soluções científicas até simples para os problemas críticos, como microplásticos nos oceanos, ou o grande volume de resíduos.

Uma das belezas do Prêmio Impactos Positivos é reunir e dar palco para essas iniciativas. Precisamos aumentar o número de pessoas que veem pessoas agindo e tendo sucesso. Precisamos esperançar mais a sociedade, que está mergulhando em uma depressão distópica. 

Quais lições ou histórias de transformação pessoal ou profissional você gostaria de compartilhar que poderiam inspirar outros a liderarem com propósito?

Vou contar como me conectei com a minha missão. Eu estava num burnout horroroso, fiquei 6 meses afastada do trabalho. Na busca por me reconectar com meus valores, com quem era eu aqui neste planeta, eu nem queria mais saber de ser feliz, eu só queria ter paz.

Aí o Cortella lançou o livro Viver em paz para morrer em paz, e ali na introdução tem uma parte que ele pergunta: o que é ser importante? É importar para alguém? Importar para quem? Não importa se você quer ser importante para todo o mundo ou apenas ser a melhor mãe para seus dois filhos, seja a melhor pessoa para essas pessoas.

No fim da vida, você será lembrada, lembrado por ter se dedicado a essa missão. Ele não disse bem assim, mas é como eu guardo, e foi meu momento clique. Foi quando caiu a ficha que eu queria acabar com os monólogos em grupo. De lá para cá a forma de fazer isso já mudou, foi aprimorada, mas sempre foi sobre proporcionar boas conversas.