Inclusão com Propósito e Coragem

Carolina
ignarra

Nesta edição, temos a honra de apresentar Carolina Ignarra, fundadora da Talento Incluir e cofundadora da Talento Sênior. Carolina é uma referência em inclusão social e acessibilidade, uma mulher que transformou a própria história em motor de transformação para milhares de outras vidas. 

Inclusão tem que se tornar cultura e não exigência

Empreendedora social, estrategista e liderança humanizada, Carolina Ignarra é fundadora da Talento Incluir, consultoria que já apoiou a inclusão de mais de 9 mil pessoas com deficiência no mercado de trabalho, e cofundadora da Talento Sênior, voltada para a continuidade de carreira de profissionais com mais de 45 anos. 

Após um acidente de moto em 2001, Carolina tornou-se cadeirante e encontrou, nesse desafio, a força para se tornar uma voz ativa na luta contra injustiças sociais. “Minha missão é trazer dignidade para a pessoa com deficiência para que ela tenha uma vida plena e respeitada.” 

Ela quer ser lembrada como alguém que atua com coragem, estratégia e humanidade, e que contribui para que a inclusão deixe de ser uma cobrança e passe a ser um valor vivido naturalmente pela sociedade. 

“São histórias que vejo na Talento Incluir que me mostram o poder real da inclusão e nos motivam a seguir.” – Carolina Ignarra 

Como você vê o papel da liderança e do propósito no enfrentamento dos desafios globais atuais, como a sustentabilidade e a inclusão social?

A liderança que o mundo precisa hoje é aquela que assume uma responsabilidade coletiva, comprometida com o bem-estar da comunidade. Já não é mais aceitável liderar pensando apenas em metas financeiras e acúmulo de lucro. Estamos sendo chamados a liderar com um propósito claro, que respeite tanto os seres humanos quanto o planeta que habitamos. Isso exige coragem para ressignificar nossos dilemas éticos e transformar intenções em ações concretas. 

Seja na inclusão de pessoas com deficiência, seja no enfrentamento das mudanças climáticas, líderes precisam reconhecer que suas decisões impactam diretamente milhares de vidas. E, em um mundo cada vez mais consciente, informado e conectado, apenas o discurso já não convence. Hoje, propósito sem atitude é só retórica — e a prática passou a ser a verdadeira medida da liderança. 

Quais ações ou iniciativas você vê acontecendo hoje no mundo que podem inspirar indivíduos e organizações a adotarem práticas mais responsáveis e sustentáveis?

Vejo com esperança o crescimento de um movimento — ainda tímido, mas muito potente — de empresas que estão superando o marketing de impacto superficial e se comprometendo com práticas reais de ESG. São organizações que começam a colocar a acessibilidade no centro de seus processos, desde o planejamento de produtos até eventos e a rotina do dia a dia. Elas não apenas comunicam, mas efetivamente praticam seus discursos sociais. 

Me inspira profundamente ver pessoas com deficiência liderando iniciativas, criando startups, ocupando espaços em conselhos de inovação e universidades. Ainda são poucos casos, mas esses exemplos fortalecem a importância da representatividade e renovam minha crença na transformação. Nós, pessoas com deficiência, tivemos que inventar formas alternativas de existir num mundo que não foi planejado para nós. E dessa experiência de exclusão nascem soluções criativas, sustentáveis e inclusivas. 

Para mim, esse é o futuro: construir com quem vive os desafios, não para eles, mas junto com eles. Como diz o lema que carregamos desde a convenção da ONU em 2006: “Nada sobre nós sem nós.” Queremos estar presentes, queremos fazer parte. 

Um exemplo prático e inspirador é o case do Grupo Boticário, que lançou uma linha de batons com encaixe adaptado para mãos com amputações ou deformidades. A linha foi premiada no SXSW 2025 — prova de que acessibilidade pode e deve ser sinônimo de inovação. 

Quais lições ou histórias de transformação pessoal ou profissional você gostaria de compartilhar que poderiam inspirar outros a liderarem com propósito?

Ao longo da minha trajetória, aprendi que quanto mais estudo inclusão e diversidade, mais me desenvolvo — não apenas como profissional, mas como pessoa. Tenho crescido ao me conectar com mulheres diversas: negras, trans, periféricas, executivas, com mais ou menos privilégios que eu. Cada uma me ensina algo sobre humanidade, empatia e escuta. Esses aprendizados se refletem na forma como me relaciono com o trabalho, com a família, com o mundo. 

Na Talento Incluir, temos muitas histórias que nos emocionam e inspiram. Uma delas é a da Michelle, mulher cadeirante que, ao chegar até nós, não havia completado o ensino médio e trabalhava como manicure. Passou dois anos conosco, cresceu, conquistou um emprego num banco internacional, comprou carro, apartamento, se casou e teve filhos. Uma vida completamente transformada. 

Outra história marcante é a do Eduardo, que tem Síndrome de Down. Apoiamos sua primeira inclusão no mercado de trabalho em 2009 e acompanhamos duas mudanças de empresa desde então. Recentemente, ele me mandou uma mensagem dizendo o quanto estava feliz por ter recebido sua participação nos lucros da empresa — e que, todo ano, esse momento o faz lembrar da Talento Incluir e de como nossa atuação foi decisiva para o homem que ele é hoje. 

Essas histórias são combustível para continuarmos. São sobre dignidade resgatada. Sobre inclusão vivida na prática. E é por isso que seguimos: para construir uma sociedade que seja verdadeiramente inclusiva — para todos.