Você sabia que a literatura árabe vai muito além de Aladim, Ali Baba e outros clássicos de “As Mil e Uma Noites”? Infelizmente, devido a falta de tradutores especializados na língua árabe, o Brasil não tem fácil acesso a esses livros.
Porém, isso está mudando aos poucos. Para ajudar a difundir um pouco mais essa literatura que está viva desde o século VI, listamos alguns escritores árabes que vale a pena você conhecer.
Nawal El Saadawi
Nawal El Saadawi é escritora, médica e feminista egípcia. Nasceu em 1931 e em seus livros aborda, principalmente, a mulher dentro da comunidade islâmica, dando ênfase para mutilação genital feminina. Em seus livros, sempre buscou transformar em narrativa os casos de opressão sofridos por suas pacientes e é tida com uma das mais revolucionárias dentro da literatura árabe.
Por conta do seu caráter militante, Saadawi ficou conhecida como “Simone de Beauvoir do mundo árabe”. Ela também é a fundadora da Associação de Solidariedade das Mulheres Árabes (AWSA), que busca promover a participação ativa das mulheres árabes na sociedade, política e economia. Por conta da sua luta contra a opressão, perdeu seu cargo no governo egípcio no ano de 1972 e em 1981 foi presa pelo presidente Anwar Al-Sadat.
Entre seus maiores clássicos, vale a pena citar “A face Oculta de Eva”, um dos poucos romances traduzidos para o português da autora. Publicado originalmente em 1977, o livro busca mudar a visão que foi construída da mulher árabe, como uma pessoa fraca, passiva e mentalmente deficiente. O livro possui diversas críticas voltadas ao autoritarismo do patriarcado árabe, que são embasadas através de fatos históricos, traçando um paralelo entre a função da mulher na sociedade egípcia antes e depois do conceito de propriedade privada.
Fátima Mernissi
Fátima Mernissi era marroquina, nascida em família de classe média no ano de 1940 e também representa o feminismo árabe. Falecida em 2015, a escritora passou a infância no harém de sua avó, junto com suas demais parentes. Quando mais velha, se formou em ciências políticas na Faculdade Mohammed V, na cidade marroquina de Rabat e concluiu seu doutorado na universidade de Brandeis, no estado de Massachusetts, nos EUA.
Sendo considerada uma das principais feministas árabes do mundo, Mernissi focava suas obras em como a cultura islâmica afeta a participação da mulher árabe dentro da própria religião. Utilizava os próprios textos religiosos como argumento para suas críticas, e mostrava figuras femininas históricas do islã que tiveram grande representatividade religiosa. Dessa forma, mostrava que o erro não estava no Corão em si, mas sim nas interpretações abusivas feita pelos líderes de uma sociedade patriarcal.
Vale a pena ressaltar que o harém em que Fátima viveu não é aquele que está no imaginário popular, com várias mulheres que estão todas à disposição de um homem para lhe satisfazer sexualmente. O local onde a escritora cresceu é uma casa, onde as mulheres de uma mesma família vivem e têm sua saída e horários controlados pelos maridos. Seu primeiro livro e um dos mais conhecidos, “Sonhos de Transgressão – Minha Vida de Menina num Harém” é uma autobiografia, onde ela conta sobre sua infância e como aprendeu o feminismo através de sua mãe, uma mulher tradicional e analfabeta que sonhava viver em uma sociedade mais igualitária.
Naguib Mahfouz
Nascido no Cairo, capital do Egito, Naguib Mahfouz veio de uma família extremamente religiosa. Esse, entre outros elementos de sua vida, fizeram parte de suas obras literárias, moldando histórias que misturavam ficção com realidade.
Formou-se em filosofia na Universidade do Cairo, seguindo os passos do pai e indo trabalhar como funcionário público. Mahfouz trabalhou diretamente com o ministério da cultura.
Seus primeiros romances se passavam no período do antigo Egito, mas sua fama chegou por causa de uma trilogia, conhecida como “Trilogia do Cairo”. Os três livros que compõem a narrativa são: “Entre dois palácios”, “Palácio do desejo” e “Jardim do passado” que contam a história de três gerações de uma mesma família no período entre as duas guerras mundiais. Ambientado na cidade do Cairo, a história foca nas relações entre os membros de uma família tradicional muçulmana e com o passar dos anos e a situação política mudam o pensamento deles.
Naguib Mahfouz ganhou o nobel de literatura de 1988 tornando-se o primeiro egípcio a ganhar tal honraria. Por conta disso, é tido como o mais importante escritor árabe. Mahfouz também se destacou por nunca abandonar seu idealismo. Em seus livros, fazia duras críticas aos costumes do islamismo, chegando a sofrer um atentado no ano de 1994 por um fundamentalista da religião.
Rajaa Alsanea
Rajaa Alsanea nasceu na Arábia Saudita, e ganhou fama por conta do seu romance “Girls of Riyadh”. Embora a obra não seja considerada uma das melhores da literatura árabe, sua abordagem gerou enorme polêmica dentro da sociedade saudita.
O livro conta a história de quatro adolescentes sauditas lidando com as questões culturais e éticas do seu país, dando enfoque na sexualidade das mulheres e em como elas buscam a felicidade mesmo enfrentando tantos preconceitos.
Sua obra foi banida da Arábia Saudita, e gerou uma enorme alvoroço dentro da classe mais conservadora, ganhando destaque na mídia do país. Também foi listado para Dublin Literary Award de 2009.
Alaa Al Aswany
Alaa Al Aswany é um escritor egípcio nascido no Cairo e fundador do Kefaya, movimento jovem muito importante na luta contra o ditador Mubarak. Além de escritor, Al Aswany é formado em odontologia chegando a estudar nos EUA.
Ficou mais conhecido pelo seu livro “O Edifício Yacoubian”, que carrega o título de livro mais vendido da literatura árabe, chegando a ganhar uma adaptação no cinema. A obra aborda temas como homossexualidade, conflito de classes e a sociedade egípcia como um todo. A história se ambienta no edifício que dá nome ao livro construído, inicialmente, para abrigar a alta sociedade, mas que com o tempo foi entrando em decadência.
A obra confronta certos costumes, discutindo os maiores tabus da cultura árabe de maneira aberta e direta. O livro foi tão bem recebido pela comunidade, que ganhou uma adaptação para o cinema em 2006.