Tive a oportunidade de visitar a Colômbia várias vezes entre 1998 e 2000. Foi durante um período difícil para o país, época de guerrilhas, mas mesmo assim não pude deixar escapar a chance de ir. Na primeira viagem, fui até um pouco inconsequente, viajei sem avisar ninguém que estava indo, pois foi tudo muito rápido entre tomar a decisão, e realmente ir.
Chegando no aeroporto de Medellín, a primeira coisa que fiz foi ligar para os meus pais e avisar da aventura. Lembro de contar para minha mãe que estava na Colômbia e que iria passar o final de semana por lá. Jovens leitoras, por favor, não vejam isso como bom exemplo… hoje entendo minha atitude, de certa forma inconsequente, pelo olhar de uma mãe.
Estava no telefone com ela quando saí do aeroporto, e lembro de contar a cena que estava presenciando: tanques de guerra na minha frente… tendo a prioridade da passagem! Uma situação bem tensa para quem não estava acostumada com este tipo de realidade.
Ainda no caminho entre o aeroporto e a cidade, acredite ou não, minha primeira percepção sobre o país foi se transformando rapidamente. Passando por um cenário lindo e verde e chegando na cidade, com lugares floridos, ruas movimentadas, pessoas animadas, mulheres lindíssimas… Me encantei por Medellín e pela energia daquele lugar na hora.
Como comentei em outros textos, passei alguns anos morando nos Estados Unidos. E antes de me mudar para lá, em 2000, tive a oportunidade de ficar durante dois meses na linda Colômbia. Durante esse tempo, visitei muitos lugares, como Cali, Bogotá, San Andrés, Cartagena, conheci também muitas pessoas e suas histórias. Mas um fato muito bacana de quando moramos em outro lugar, é a vontade que surge dentro de nós de experimentarmos coisas novas.
Observar é diferente de enxergar
E assim, com sede de novidade, resolvi me inscrever para fazer uma aula de pintura que era dada em uma casa incrível em cima das montanhas. Medellín tem um território bastante montanhoso, então é comum você ter essas lindas casas no alto. As aulas eram durante o dia e ao ar livre. A didática era daquelas onde se observava algum objeto, ou paisagem, e você pintava na tela branca. Por mais que não seja muito boa em desenhar, pintar me trazia leveza, uma calma muito bacana.
Durante este curso de pintura, teve um dia especial, com aula noturna dada em um estúdio todo equipado dentro da mesma casa. Ao chegar para a atividade diferenciada, a professora surpreendeu a todos dizendo que teríamos uma aula de nu artístico… Minha primeira reação foi: oi??? Confesso que a aula de nu artístico era muito diferente do que eu antecipava para o momento. A professora nos explicou que o foco maior da aula era entender e observar com clareza o impacto e a importância da luz em nossa percepção e realização da arte.
Havia uma espécie de mini palco na nossa frente onde um modelo homem, completamente nu, deixou cair o lençol que o cobria assim que foi dada a autorização para começarmos nossa obra. Vocês, talvez, já estão imaginando a cena. Foi um pouco engraçado no primeiro momento, até desconfortável. Mas quando parei de enxergar o modelo e observar a luz que formava seu corpo, compreendi a diferença de olhar, consegui me aprofundar no aprendizado e encarar aquele desafio de verdade.
Não sei se consigo colocar em palavras para vocês, mas de repente, eu não via mais uma pessoa (pelada) ali. Para mim, aquele momento se tornou igual às outras aulas com um “objeto” que servia como fonte de inspiração. Foi incrível a sensação que senti quando entendi aquela experiência inteira e aprendi, de verdade, que quando conseguimos enxergar o todo, focamos no objetivo maior. Então, tiramos as pequenas e erradas percepções do nosso imaginário, do nosso caminho.
Que aula linda e quanto aprendizado. Vejo minha experiência por lá como uma espécie de metáfora muito boa com o próprio país. Naquela época, ninguém via a Colômbia como um todo, víamos apenas as guerrilhas e cartéis. Esquecíamos de enxergar a “LUZ”. As pessoas são positivas, engajadas, dispostas. Os lugares são lindos e independentemente do momento que os colombianos estavam vivendo, eles não se faziam vítimas da situação, eles continuavam vivendo como protagonistas. Esse brilho das pessoas daquele país, é o que hoje coloca a Colômbia em outro patamar, em vários aspectos. Sinto muito orgulho de ter vivido em um país, que considero um grande exemplo de superação e inspiração.
Agora uma dica… viaje sempre que puder, para qualquer um dos lugares pelo mundo.