As eleições presidenciais americanas finalmente chegaram ao fim com a cerimônia de posse do presidente eleito, Joe Biden, no último dia 20. Dentre os diversos artistas, como Lady Gaga, Jennifer Lopez e Tom Hanks, que cantaram e discursaram, uma jovem garota chamou a atenção: Amanda Gorman.
A escritora e poetisa de apenas 22 anos foi escolhida a dedo pela primeira dama, Jill Biden, para declamar seus poemas para todo o mundo. The hill we climb (A colina que subimos) foi a obra que Gorman escreveu e declamou. O discurso é uma chamada para união de uma nação que foi completamente polarizada nos últimos anos.
Amanda nasceu em Los Angeles, na Califórnia, e foi criada por uma mãe solteira que trabalhava como professora do ensino médio. Desde pequena já escrevia e teve seus primeiros trabalhos publicados em jornais. Ainda na infância, teve que enfrentar um problema que prejudicava sua dicção, fazendo com que ela se aproximasse ainda mais da leitura. Já mais velha, a poeta foi estudar sociologia em Harvard, uma das maiores universidades dos Estados Unidos.
Amanda se tornou não só uma figura de esperança para a democracia americana, mas uma também figura de representatividade para aquelas que são como ela. É o caso de Midria Pereira, uma jovem poeta e escritora negra da zona leste de São Paulo, que assim como a americana, também é adepta dos slams, que são como batalhas de poesia falada.
As semelhanças não param por aí, Midria estuda ciências sociais na USP, a maior universidade do Brasil e da América Latina e em seu currículo já possui dois livros publicados: “A menina que nasceu sem cor” e uma versão infantil do mesmo livro.
Para a poetisa brasileira, que também faz pesquisas na área da sociologia sobre os slams, a chegada de Amanda até a cerimônia de posse mostra a força do movimento de poesia falada, que tem como objetivo dar voz para aqueles que não são escutados: “Existe uma questão nos movimentos de slams que é uma preponderância da mulher negra nos espaços de evidência. Então as mulheres negras, dentro desse cenário da poesia falada, ganham uma notoriedade que não é vista em outros espaços da sociedade”
Além de uma inspiração para as “Amandas do mundo todo”, Midria também destaca nos impactos positivos e na visibilidade que Gorman dará aos movimentos de poesia falada. Ela lembra da matéria exibida pelo programa Fantástico, da rede Globo, no dia 24 de janeiro e como isso foi representativo: “Isso (matéria do Fantástico) foi incrível! O slam é um movimento muito grande e possui mais de 200 comunidades em mais de 20 estados brasileiros. Mas ainda assim não temos grandes matérias na televisão sobre o campeonato brasileiro de slam, que mobiliza mais de 1500 pessoas por dia nos dias de competição. Então é muito importante que esse movimento que é tão construtivo, não só para quem participa mas como para quem ouve, tenha maior visibilidade para evidenciar o quanto a poesia tem potência”.
Uma das entrevistadas pelo Fantástico, Roberta Estrela D’Alva, responsável por trazer o slam ao Brasil, chama atenção para o impacto positivo que o discurso de Amanda teve no cenário de poesia brasileiro: “Eu e a Mel Duarte (uma das mais importantes poetisas de slam do país) falamos no Fantástico, que é um programa com uma audiência alta. Então isso (discurso de Amanda) obrigou um grande veículo a procurar pessoas como nós, poetas negras. Só o fato da Amanda ter tido esse destaque, já fez com que duas poetas negras também tivessem destaque, gerando um efeito em cadeia”.
Amanda se tornou um símbolo de inspiração para a juventude negra que vai além das artes, ela também é inspiração política. Vale lembrar que no ano passado os movimentos anti-racistas dos Estados Unidos ganharam força após o assassinato de Jorge Floyd e a posição do então presidente, Donald Trump, foi de repreensão violenta chegando a comparar os manifestantes com terroristas. “Quando um presidente que assume o cargo chama uma poeta negra, como a Amanda Gorman, para ser a porta voz poética, ele está assumindo diretamente um compromisso com a população negra.”, conta Roberta, sobre o discurso de Amanda Gorman.