A arte do Brasil: as namoradeiras de Minas Gerais

21 de abril de 2021
Suzane Hammer

De olhos grandes e expressivos. Olhos que observam o céu esperando uma resposta de seu pedido. Quando será que ele vem? De boca carnuda e sensual, batom vermelho carmim. Anseia por um beijo apaixonado de um amor que nunca vem. Descansando sua cabeça, segurando seu queixo, não se cansa de olhar o céu, a rua e a cada transeunte que passa na frente de sua janela perguntando: será que é ele? De laços enormes, turbantes e flores coloridas em seus cabelos, os adornos emolduram seu rosto esperançoso e apaixonado. Seus seios e ombros sensuais, se destacam em um decote de tecido de chita de cores vivas insinuando a sensualidade de seu corpo. E assim, as namoradeiras de Minas Gerais esperam na janela pelo grande amor de suas vidas.

Quem já teve a oportunidade de viajar pelas pequenas cidades de Minas Gerais, com certeza já deve ter encontrado essa bela figura em algumas janelas das casas do interior mineiro. As namoradeiras de Minas fazem parte do riquíssimo artesanato brasileiro. 

Com somente braços, cabeça, ombros e seios fartos, essas estátuas pode ser encontradas em cerâmica, madeira, gesso ou resina, além de diversos tamanhos. A posição dos braços e cabeça podem variar um pouco, mas a maioria é encontrada segurando o queixo com olhar e expressão de esperança.

A origem das namoradeiras de Minas é incerta, mas existem algumas histórias que contam um pouco sobre elas.  

Na época colonial, era muito comum que as mulheres permanecessem em casa e a janela seria um dos poucos momentos de contato com o que acontecia na cidade. Esse era o momento em que elas podiam observar seus filhos brincando na rua, conversar com suas vizinhas, aguardar seus maridos ou amigas e claro, observavam e flertavam com possíveis  namorados. Também existiam as fofoqueiras e mexeriqueiras que faziam as vezes de jornal da cidade e eram as responsáveis por espalhar as notícias boas e más. Esse é considerado um importante momento de socialização feminina, não somente em Minas Gerais, mas também em todo o Brasil.

Também existe a versão que as moças de famílias ricas, eram proibidas de sair de casa e assim, ficavam debruçadas nas janelas esperando que um dia o grande amor de sua vida surgisse. Talvez essas histórias tenham sido a grande inspiração para o surgimento das namoradeiras.

Uma lenda mais triste conta a história de Ritinha. Ela era uma charmosa mucama que trabalhava na Fazenda Urubu, no interior de Minas. No final da época da escravatura, Sinhá Iaiá libertou todos seus escravos e permitiu que eles escolhessem onde gostariam de trabalhar em sua fazenda.

A sonhadora Ritinha vivia reclamando que não tinha um namorado e, vendo sua tristeza, a Sinhá Iaiá mentiu para ela, dizendo que um caixeiro viajante havia se apaixonado por Ritinha e que gostaria de fazer a corte através de cartas. Sinhá  Iaiá, se passando por um pretenso namorado, escrevia as cartas dizendo que um dia gostaria de encontrar a namorada linda e bonita debruçada em uma janela.

E assim, a apaixonada Ritinha passava suas tardes toda arrumada na janela aguardando, com olhar sonhador, que seu grande amor viesse visitá-la.

Um dia, a Sinhá observou que Ritinha havia permanecido 24 horas na janela e para sua surpresa e tristeza, Ritinha havia morrido. Morreu esperando pelo tão sonhado namorado. Na mesma noite, em sonho, Ritinha apareceu para sua patroa e lhe pediu que mandasse fazer uma estátua de sua pessoa e a colocasse na janela para que pudesse ter paz na alma, e assim, conseguiria encontrar seu amor.

E assim foi feito. Um escultor criou uma bela imagem de Ritinha e a mesma foi colocada na janela da Fazenda Urubu. Muitos acharam a imagem tão bela que encomendaram outras para enfeitar suas casas. Logo, ela se espalhou pelo Brasil. Reza a superstição que moças solteiras não devem ter e nem comprar uma imagem da namoradeira pois  não conseguiriam encontrar um pretendente afinal, a imagem carregaria a alma sofrida de Ritinha.

Não existem provas de todas as versões sobre o surgimento das namoradeiras de minas, mas não resta dúvida que as imagens trazem muito da riquíssima e bela arte brasileira que se espalhou por nosso país e pelo Mundo afora.          

Podem ser negras, brancas, morenas, indigenas ou mulatas. De lábios vermelhos, olhos apaixonados e roupas coloridas e sensuais. As namoradeiras transmitem acima de tudo, a esperança de ter um grande amor.  

Poema da Namoradeira

Lili Band

Não Foi Por Acaso

Oh de casa! como é que vai?
Eu vou na venda o quo cê quer que traz?
É goiabada, pão de queijo, tanto faz!
O que importa que essa vida eu vivo em paz
Eu tô chegando e quero seu calor
Vovó me faça um favor!
Fogão a lenha a todo vapor, e na panela todo seu amor

E na janela junto da namoradeira
Eu me pergunto se essa vida é passageira
Enquanto o vento bate assim meio de beira
Pego a viola e vou descendo a ladeira
Descalça a criançada toca a brincadeira
Enquanto eu bordo na lembrança
O que é pra vida inteira, eta mulher rendeira
Eta mulher rendeira
Seu chico meu vizinho tão legal
Que passa o dia inteiro no quintal
Com muita prosa e muita poesia
Vai levando a vida com muita alegria.

E na janela junto da namoradeira

Eu me pergunto se essa vida é passageira
Enquanto o vento bate assim meio de beira
Pego a viola e vou descendo a ladeira
Descalça a criançada toca a brincadeira
Enquanto eu bordo na lembrança
O que é pra vida inteira
Eta mulher rendeira, eta mulher rendeira
Oh moço tome um café
Nessa cidade sabe como é que é
Simplicidade tem em cada esquina
Ôh trem bão demais essa tar de minas

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