Cá com meus botões.

7 de maio de 2020
Luana Fonseca

Há um tempo atrás, li um texto de Ana Thomaz (bailarina e educadora) bastante provocativo no meu julgamento, o qual ela chamou de “A maravilhosa inutilidade humana”.

O li e reli algumas vezes, e é fato que ele me tocou de um jeito muito especial, pois me lembra que viemos nessa vida para SERMOS. E para que possamos ser quem somos e ter condições de manifestar nossa mais genuína expressão humana, precisamos desapegar de alguns conceitos aprendidos ao longo da caminhada. Um deles, por exemplo, que muito me interessa desaprender, é aquele que diz que as coisas que fazemos tem que SERVIR para algo, tem que TER uma utilidade.

A propósito, se me guiasse pelo que aprendi a respeito do que é útil nessa vida, jamais teria feito uma viagem de 1 ano pelo mundo, porque afinal, ela não me fez ser promovida na carreira, nem me ajudou a ganhar mais dinheiro para ter uma boa casa e um belo carro, pelo contrário, no sentido que aprendi, eu “perdi, gastei” dinheiro. Ela não resultou em título algum que eu pudesse adicionar ao meu currículo, não me deu nenhum diploma, certificado, troféu ou medalha para trazer para casa, e sendo assim, para que serviu essa viagem?

Foto: Luana Fonseca

Acolhendo essa pergunta em mim, senti que a utilidade, nesse sentido, não me interessa. O que me importa é reconhecer o quanto de mim se manifestou naquela experiência. Nela me enxerguei cada dia mais, e não vi apenas coisas bonitas e dignas de partilha, mas também minhas sombras que se manifestaram sem avisar, mesmo diante do mar azul cristalino e do sol radiante.

Ao longo da viagem, meu ser quis se expressar através de palavras, então escrevi; através de trocas, então conversei; através de música, então cantei; através de poesia e então compus; através de movimento, então dancei, através de silêncio e então contemplei… e assim, me reconheci simplesmente SENDO, e isso, de fato, é o que me importa!

Pois é exatamente isso que quero oferecer a mim mesma, ao mundo e a todas as pessoas que cruzarem meu caminho, a linda possibilidade de sermos “inúteis” e ao mesmo tempo, absolutamente cheios de valor!

E nesse intuito, sinto que ainda temos muito o que aprender sobre o desfrute, o ócio, o silêncio, o não saber, o ‘não ter que’, para que possamos abrir espaço para florescer algo que ainda não conhecemos completamente, que é a nossa essência, o nosso verdadeiro SER.

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