Por Flávio Amaral
Jornalista esportivo e atacante do BeesCats Soccer Boys
A participação nos Gay Games – a olimpíada LGBT+ – sempre foi colocada como o maior desafio do BeesCats Soccer Boys em 2018, devido ao investimento em todos os níveis feito para participarmos dessa grande celebração mundial da diversidade. Nossa preparação passou um pouco por cada competição que a equipe disputou no ano, além de treinos e amistosos, para que pudéssemos representar à altura o Brasil em Paris.
Entrar em campo sob um sol de rachar não deveria ser problema para um time acostumado a jogar ao meio-dia no Rio de Janeiro. Mas a onda de calor que castigava a Europa surpreendeu inclusive aos que não estavam acostumados a ver o sol se pôr às 10 da noite. Por ordem do governo local, a organização precisou adiar o início de partidas próximas do horário de pico de temperaturas, além de estabelecer paradas para hidratação a cada 15 minutos. Foi nesse clima que o Bees precisou encarar seus dois primeiros jogos no mesmo dia.
Os intervalos da reunião entre árbitros e capitães, na véspera do primeiro dia de jogos, eram a oportunidade perfeita para acompanhar o treino de outras equipes. E um dos observados por nós foi logo o adversário da estreia: o irlandês Cork Rebels. A vitória por 7 a 1, placar emblemático para os brasileiros mesmo não havendo times alemães no torneio, tirou o nervosismo da estreia e abriu caminho para mais duas goleadas: 11 a 2 sobre o Haraga United, combinado de jogadores argelinos e franceses, e 9 a 3 sobre o Zorros, do México.
Tempo ruim, só fora de campo
A confiança cresceu com os 100% de aproveitamento na fase de grupos e embalou o time no confronto com os ingleses do Trowbridge Tigers, pelas quartas de final. O clima mais ameno, com céu nublado e previsão de chuva, foi o único fator favorável aos europeus, que tiveram suas redes balançadas nada menos que 16 vezes e não marcaram um gol sequer. Foi o placar mais elástico de todo o torneio de futebol nos Gay Games.
A queda brusca na temperatura entre a manhã e a tarde apresentou aos brasileiros o verdadeiro frio europeu, contrastando com o tempo seco e abafado dos dias anteriores. A tempestade que castigou o campo fez com que jogadores corressem para os bancos de reservas para se proteger da chuva e do vento gelado, mas, dentro de campo, o BeesCats manteve a temperatura dos jogos anteriores e aplicou novo 7 a 1, carimbando sua vaga na final.
O cenário da decisão tinha cara de revanche histórica: Brasil e França decidiriam a medalha de ouro em uma reedição da final da Copa do Mundo de 1998. Além de uma campanha cheia de goleadas, havia algo mais em comum entre BeesCats e Sud Au Cul: a equipe do sul da França também tinha um trocadilho no nome.
Na tensa final, o Bees comemorou primeiro. Abriu o placar em cobrança de falta, mas permitiu que os franceses virassem o jogo, vendo o ouro mais distante. Na raça, os brasileiros buscaram novamente o empate. Uma expulsão acendeu ainda mais as esperanças, fazendo com que o time da casa recuasse. Só dava Brasil, mas em um contra-ataque no último lance da partida, a França encontrou o gol que impôs ao BeesCats a medalha de prata.
Uma dose extra de romantismo, s’il vous plait!
Já se imaginou sendo pedido em casamento com a Torre Eiffel ao fundo durante uma viagem em que você vai a Paris fazer o que mais gosta? Foi essa a sensação que nosso capitão Douglas Braga teve depois de acreditar que o time iria uniformizado aos Jardens do Trocadéro para uma sessão de fotos e filmagem.
O pretexto colou e, na primeira vez em que as luzes da torre piscaram, a suposta ação foi interrompida para que seu namorado Ricardo Perreira se ajoelhasse diante da formação da equipe. O momento foi um dos mais emocionantes de nossa viagem e está fazendo sucesso nas redes sociais.
Visão do atleta
A sensação de representar o nosso país em um torneio mundial é inesquecível. Quando nos paravam na rua e dizíamos que éramos brasileiros e que fomos jogar futebol em Paris, rapidamente nos perguntavam sobre Neymar, diziam que o Brasil deveria ter ido mais longe na Copa do Mundo e que nosso time deveria ser um dos favoritos nos Gay Games.
Dentro de campo, encontramos na postura dos adversários o mesmo respeito imposto pela camisa amarelinha em competições internacionais. Encontramos também, por outro lado, um espírito esportivo incomparável na maioria dos atletas. Jogadores de outras equipes pediam para tirar fotos conosco e com a bandeira do Brasil.
Recebemos apoio incondicional de todos no Brasil: familiares, amigos, companheiros de equipe que não puderam ir conosco, jogadores de outros times… muito amor, carinho e votos de boa sorte expressos em mensagens de texto, áudios, fotos, vídeos. Ficamos frustrados por ter sofrido no último lance um gol que frustrou nosso sonho de voltar ao Brasil com a medalha de ouro no peito, mas o segundo lugar também simboliza todo nosso esforço.
Em alguns jogos, entramos em campo com camisas de diversos times da LiGay Nacional de Futebol, mostrando que representamos todos eles lá fora – e jogamos por todos eles. A prata também mostra que ainda há trabalho a ser feito, e que o esporte LGBT+ brasileiro precisa de um olhar atento de entidades governamentais e empresas patrocinadoras.
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