Quem são as cantoras que você escuta?
Em uma conversa normal e casual no trabalho descobri que, em homenagem ao dia das mulheres, o Spotify tinha lançado uma ferramenta que dava para saber qual a porcentagem de artistas mulheres que cada usuário escuta. Aliás, a minha não era lá muito boa, de apenas 26%. Mas isso me fez pensar e questionar sobre as mulheres no cenário musical.
Continuei a reflexão, não apenas restringindo sobre as mulheres na música, como quem eram as mulheres que eu escuto e que me inspiram a ser mais forte. Por isso resolvi fazer essa lista. Essas são três cantoras do mundo, que além de admirar a música, admiro o conteúdo de suas letras e a representatividade. São três cantoras que me inspiram e podem te inspirar também.
Marina Peralta
“Qual é o sentido da sua arte? Arte é muito mais que habilidade”
Ela é a primeira que eu vou falar. Talvez por eu ser (como dizem por aqui) bairrista e ela ser minha conterrânea. Mas não apenas por isso. Ela, assim com eu, é de Campo Grande (MS) e foi lá que eu a conheci, quando ainda tinha meus 15 anos, em congressos de arte na igreja que frequentava. E para mim foi incrível quando comecei a conhecer sua música e vê-la se destacar de tal forma no Brasil. Mas minha admiração não é apenas por essa identificação, mas muito mais pelo seu trabalho.
Em suas letras, Marina trata do empoderamento feminino, igualdade de gênero e lutas sociais e raciais. E usa do reggae e do rap, ritmos cuja história vieram justamente do uso da música para denúncia. Além de outras influências de estilos musicais.
Desde sempre ela faz parte das minhas playlists e em vários momentos eu escutei “ela encanta”, quando sentia que minha auto estima fazia com que eu me auto sabotasse. Com toda certeza ela é uma das mulheres que me fazem eu ser mais mulher, o tipo de mulher que luta e não se rende.
Anita Tijoux
“Não render-se ao opressor. Caminhar erguido sem temor. Respirar e soltar a voz”
Quando ainda morava no Chile e tive contato com venezuelanos, bolivianos, peruanos, e muitos outros latinos, não conseguia me identificar como latina, tal qual eles se identificavam. Mesmo o sendo. Foi só quando escutei Anita Tijoux que meu sangue ferveu, e eu senti uma identidade que eu ainda não tinha tomado posse, apesar de ser minha. Escutando músicas como “shock”, que embora retratem uma situação chilena do movimento estudantil, me atingiu e me confrontou de tal forma, que sai buscando todas as músicas e informações dessa artista incrível.
Anita das cantoras mais premiadas do Chile. Já recebeu os prêmios de “Melhor Artista Revelação” e “Melhor Artista Urbana” no MTV Video Music Awards. Com seu disco 1977 venceu quatro categorias no Gremmy Latino, entre elas “Melhor álbum rock latino” em 2011. Em 2014 também ganhou o troféu com o disco Vengo.
Conheci então músicas que tratam de movimentos sociais, raciais, que combatem o machismo, e o que mais me chamou a atenção, sobre a força latino-americana. Se a Marina me ajudou a bater no peito e dizer, sou mulher, Anita me fez bater no peito e dizer, sou latina!
Shadia Mounsour
“O lenço é árabe, essa é a nossa identidade, esse lenço, é quem somos, é isso que vestimos”
Ouvindo as músicas da Anita, escutei a que postei acima, “Somos Sur”, e a participação de Shadia Mansour me chamou atenção. Quem é essa rapper árabe? Ao pesquisar, conheci músicas maravilhosas que me envolveram pelo ritmo, a mistura mágica da melodia árabe com o rap, também árabe. Claro que não consegui entender suas letras, e sempre tinha que pesquisá-las. E ao conhecer mais, sua música não apenas me encantou, como me despertou.
Shadia é uma rapper filha de pais palestinos, mas que apesar de não ter nascido lá, se considera palestina. Canta sobre as histórias de injustiça e opressão de seu povo. E também grita sua identidade e cultura ao escolher falar o árabe, embora tenha nascido na Inglaterra. Em usar roupas típicas e não se moldar ao estilo padronizado do hip hip americano. Sua postura diz: “sou mulher, sou rapper e sou palestina”. Não é atoa que possui o título de primeira-dama do hip hop árabe.
E aliás, me fez pensar em como somos fechados em bolha de cultura ocidental. Sem conhecer quase nada de lá. Ao que Shadia me mostrou que apesar das categorias e rótulos em que somos classificados, somos todos humanos, e a dor de um é a dor de todos!